Tem sentido uma dor que não te deixa em paz há muito tempo? Você pode ter alguma dor crônica, mas ainda não sabe. Para entender melhor o que isso significa e de que forma a atividade física pode ajudar, o Blog conversou com o Marcus Yu Bin Pai, médico especialista em Dor, Acupuntura e Pesquisador da USP.

Blog BT: O que caracteriza uma dor crônica?

Marcus Yu Bin Pai: Primeiramente, vamos entender a diferença entre dor aguda e crônica. Todos nós já tivemos um episódio de dor aguda, como entorse, espasmo muscular, etc. A dor aguda tende a melhorar após dias ou semanas. Já a dor crônica é uma dor persistente, diária, contínua e que dura mais de 6 meses, mesmo após a cicatrização ou cura da lesão inicial. A dor crônica começa com alterações no sistema nervoso central. Os nervos que carregam as informações sobre a dor tornam-se sensibilizados na medida em que sensações normais de movimento, pressão, temperatura e toque leve são percebidas como dolorosas pelo cérebro. A dor crônica vira não só um sintoma, mas uma doença em si, com diversas repercussões físicas, psíquicas e sociais para a pessoa.

Blog BT: Quais as causas mais comuns?

Marcus Yu Bin Pai: A dor crônica pode ser causada por muitos fatores diferentes. Geralmente, as condições que acompanham o envelhecimento normal podem afetar os ossos e as articulações, causando dor crônica. Outras causas comuns são danos aos nervos e lesões que não cicatrizam adequadamente. Entre outras causas, estão a síndrome dolorosa miofascial, com dor muscular generalizada, a fibromialgia, uma patologia com dor difusa em articulações, nervos e músculos e a síndrome da fadiga crônica, com cansaço extremo e sensibilidade muscular no corpo todo. A endometriose, o intestino irritável, a disfunção da articulação temporomandibular e a enxaqueca também são causas recorrentes de dores crônicas.

Blog BT: Existe algum perfil de pessoa que está mais suscetível a desenvolver alguma dor crônica?

Marcus Yu Bin Pai: A dor crônica pode afetar pessoas de todas as idades, mas é mais comum em adultos mais velhos. Além da idade, outros fatores que podem aumentar o risco de desenvolver dor crônica são históricos de lesões, estar acima do peso, má postura ou pós-cirurgias. A dor crônica é mais comum entre as mulheres.

Blog BT: Quais são as opções de tratamento? Existe cura?

Marcus Yu Bin Pai: Para a maioria das pessoas com dor crônica, não há cura, mas tratamentos que controlam a dor e seus efeitos secundários. Não existe um tratamento único que funciona para todos. Realizamos um tratamento interdisciplinar com remédios específicos para controle de dor, como antidepressivos e anticonvulsivantes, pois eles têm efeito no sistema nervoso central e modulação da dor, associados a mudanças no estilo de vida.

Assim, tratamentos como cinesioterapia, exercícios e fisioterapia são obrigatórios para quem sofre de dor crônica, pois ajudam a tratar a musculatura, manter o corpo preparado e diminuir a sensibilidade à dor. Exercícios diversos como tai-chi, natação e musculação podem ser interessantes. Tratamentos como psicoterapia, acupuntura, yoga e meditação também apresentam evidências de controle da dor.

Blog BT: Como o exercício físico regular influencia no processo de controle das dores?

Marcus Yu Bin Pai: Os especialistas em dor geralmente recomendam um tratamento inicial com exercícios leves e fisioterapia. Isso ajuda você a se mover melhor, alivia a dor e tornam mais fáceis as tarefas e atividades diárias. A fisioterapia para a dor crônica persistente pode envolver manipulação, exercícios de alongamento e exercícios de alívio da dor. Após este tratamento inicial, geralmente recomendamos exercícios de fortalecimento e exercício físico regular. O aumento de força e ganho muscular é importante para estabilizar as articulações e prevenir lesões futuras.

Concluindo, a inatividade leva à rigidez dos músculos, diminuição da mobilidade e diminuição da força. Esses efeitos podem piorar os sintomas da dor crônica. Uma rotina regular de exercícios pode ajudá-lo a controlar seus sintomas e melhorar sua saúde geral.