O emagrecimento não pode ser olhado como algo capaz de ser feito rapidamente. É um processo que leva tempo e a busca pelo padrão de um corpo inalcançável torna esse procedimento penoso e difícil.
“Não será o manequim que irá te dar liberdade”, e é com essa frase que a psiquiatra Maria Francisca Mauro, especializada na área de transtornos alimentares e obesidade, inicia uma análise sobre a quebra de padrões. Essa fala é importante porque, no período que antecede o verão, a maioria das mulheres são bombardeadas com imagens de corpos magros, vendas de dietas milagrosas e exercícios que prometem mudanças rápidas na aparência física.
Contudo, a especialista sinaliza que é preciso entender que não existem mudanças feitas do dia para a noite, pois são sempre gradativas e construídas dentro de cada constituição física pessoal. “É fácil ser seduzida por dietas em que o foco não é a saúde, mas sim o resultado. Pessoas vulneráveis são mais suscetíveis a acreditar nessas promessas, já que buscam uma resposta rápida. A vontade de ir a determinados lugares que expõe o físico precisa ser naturalizada, não porque irá fazer uma mudança em seu corpo que propicie a ir, mas que possa perceber que você pode circular em qualquer lugar que deseja”, pontua a psiquiatra.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia e compulsão por comida. E tudo isso está diretamente relacionado com a distorção da imagem. “Quando se tem vergonha da própria condição física, não adianta perder peso através de dieta ou participar da próxima chamada da internet para um programa milagroso. A pessoa precisa localizar dentro dela as suas necessidades, pois pode ser que aquilo encobre outras fragilidades emocionais”, orienta a especialista.
Longe de comparações
“Sempre que falamos das dificuldades, o foco acaba sendo as pessoas que possuem tamanhos maiores, como a obesidade, como se elas necessariamente tivessem que sofrer por não se encaixarem em um padrão. É importante compreender que aquelas que são extremamente magras podem estar adoecidas, terem complicações clínicas graves, podendo fazer uso de diversos medicamentos sem indicação, com uma alimentação muito restritiva que provoque alterações hormonais gravíssimas. Precisamos conversar sobre as pessoas terem os seus corpos livres, independente de seu tamanho ser 34 ou 50, ou qualquer que seja”, expõe Maria Francisca.
Dados do Ministério da Saúde revelam que a anorexia nervosa e a bulimia apresentam grande incidência entre os jovens. As mulheres são as mais acometidas por esses distúrbios, sendo a anorexia mais presente entre jovens de 12 a 17 anos e a bulimia no início da vida adulta.
A recomendação para evitar esses problemas com a autoestima, de acordo com a psiquiatra, é reprimir a comparação. “Tenha uma bússola própria que te dê a direção das qualidades que você possui, quais são as características que fazem todos te reconhecerem. Suas medidas não serão a partir da balança ou de determinada roupa que não couber”, assegura.
O processo de aceitação e o Movimento Corpo Livre
O Movimento Corpo Livre surgiu nos Estados Unidos, em 1967, como Body Positive, e se fortaleceu no Brasil. O intuito é ajudar as mulheres a aceitarem seus corpos como são, tendo um olhar mais afetuoso. “Ele faz com que você se questione que, na realidade, não existe um padrão, mas uma indústria da moda e da cultura que, nos últimos anos, chancelou um estilo de corpo que as mulheres devem assumir como modelo de beleza a ser seguido. E isso ajuda a criar um diálogo que contrapõe alguns pontos antes dados e validados como se fossem certos.”, explica a psiquiatra.
Então, é possível perceber a importância da representatividade de influenciadores com corpos que fogem desse padrão, nos meios digitais. “Isso naturaliza o físico, reforçando que a pessoa pode sim sentir prazer, circulando à vontade. Nenhum biquíni ou estação do ano te darão a referência de quem você é”, finaliza.
Dicas práticas para criar um olhar mais positivo sobre o corpo
O ideal é desenvolver uma rotina saudável para o corpo, cuidando do lado emocional e físico, além de entender que a percepção que tem sobre o seu corpo e aparência está relacionada a forma como você lida com as questões que aparecem na sua vida.
Outra dica, apontada pela psiquiatra, é de “cuidar do seu corpo com exames periódicos, exercícios físicos, alimentação equilibrada, respeitando o tempo de descanso e o sono ”.
Por último, mas não menos importante, é necessário desenvolver o amor próprio durante o verão com o corpo feminino. E para evitar possíveis comparações, é preciso se atentar aos perfis seguidos nas redes sociais. O ideal é buscar conteúdos que estejam alinhados à sua realidade e que despertem em você reflexões e sentimentos positivos.
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