Mulher, como vai o seu coração? Como você tem cuidado dele: estando perto de pessoas que te façam bem, rindo, descansando, comendo saudável e praticando exercícios físicos? Se sim, maravilha. Se não, precisamos conversar sobre a saúde desse coração. O número de mulheres acometidas por doenças cardíacas aumentou consideravelmente nos últimos anos e temos que alertar o público feminino sobre os riscos desse mal.
Era muito comum vermos homens sofrendo de alguma doença do coração, mas essa situação tem se tornado bem democrática. Em entrevista recente ao portal de notícias Veja Saúde, a médica estadunidense Athena Poppas afirma que as doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte em mulheres ao redor do mundo.
Segundo Athena, também presidente do Colégio Americano de Cardiologia e chefe da divisão de cardiologia na Escola Médica Warren Alpert da Universidade Brown, existe uma queda nas taxas de doenças cardíacas em alguns grupos. No entanto, os índices em mulheres mais jovens têm permanecido os mesmos e até aumentaram.
“As razões são muitas, incluindo a falta de conscientização e orientação sobre esses problemas, questões socioeconômicas e aumento de fatores de risco como tabagismo, obesidade e diabetes (…). As mulheres têm certas ocorrências de saúde ao longo da vida que podem interferir no risco cardiovascular, caso de alterações hormonais e gravidez”, explica a médica ao portal.
Quais são as doenças cardiovasculares mais diagnosticadas?
Hipertensão arterial ou pressão alta e doenças isquêmicas, como o infarto e a insuficiência cardíaca, são as enfermidades mais comuns conforme aponta Juliana Soares, médica do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e clínica geral e cardiologista pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Culturalmente, homens se mostram menos predispostos ao autocuidado quando nos referimos aos exercícios físicos regulares, alimentação balanceada, idas ao médico para check-ups e acompanhamento psicoterapêutico quando necessário. Seguindo esse caminho, a possibilidade do grupo masculino se render a fatores de riscos é maior, mas as mulheres não estão conseguindo fugir desse quadro.
Juliana explica que, após os 50 anos de idade, o perigo de sofrer de doenças cardíacas aumenta quando as mulheres entram na menopausa. Nesse período, o nível de estrogênio (hormônio que facilita a dilatação dos vasos e, consequentemente, o fluxo sanguíneo) diminui e isso eleva a possibilidade de desenvolver enfermidades como o infarto agudo no miocárdio.
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A pandemia do coronavírus e a falta de exercícios físicos têm relação direta com esse aumento de casos?
Juliana afirma que sim. A atividade física é primordial nos cuidados de saúde como um todo. Segundo ela, estudos demonstram que a prática de exercícios físicos regulares está diretamente ligada à queda nas taxas de doenças cardiovasculares, prevenindo eventos como o infarto do miocárdio e morte súbita.
A pandemia do coronavírus foi igualmente um fator para a elevação de casos cardiovasculares. Isso se explica pela diminuição na dinâmica das atividades diárias. Sair de casa para o trabalho, escola, academia e, paralelamente, um aumento dos níveis de estresse, ansiedade e depressão são algumas dessas situações.
“Quadros de estresse se correlacionam à alteração nos sintomas hormonais do organismo, favorecendo o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Além disso, a depressão e a ansiedade têm baixa adesão nos tratamentos médicos, o que pode acarretar em piora de quadros clínicos preexistentes”, reforça.
O papel da mulher na cardiologia reflete no cuidado com a saúde da população feminina?
De acordo com Juliana Soares, ainda existem muitas questões estruturais a serem resolvidas, mas podemos observar a conquista feminina tomando uma proporção bem maior e dando destaque às questões da saúde da mulher. Como na divulgação dos riscos cardiovasculares e das doenças, além do desenvolvimento de linhas de cuidado destinadas a esse público.
Athena Poppas acredita que o mundo começou agora a perceber que há uma lacuna de conhecimento sobre o impacto das doenças cardíacas em mulheres, assim como quais os medicamentos são mais recomendados e em quais doses. Contudo, a boa notícia é que estamos colocando a saúde da mulher também como prioridade.
“Não apenas existem pessoas que ficam mais confortáveis com um médico do mesmo gênero, mas esse fator pode impactar diretamente em como alcançamos as mulheres, nos conectamos a elas e construímos uma confiança crucial para uma tomada de decisão compartilhada”, enfatiza Athena.