“Tenho muito orgulho de fazer parte desse universo paradesportivo e muito mais em saber que posso servir de exemplo para tantas pessoas, já que, com apenas 21 anos, estou conseguindo fazer uma carreira no tênis de muitas vitórias, superação e tentando sempre transmitir que, para nós que possuímos alguma necessidade especial, nada é impossível.
Vou contar um pouco da minha história e rotina para vocês, e logo verão que a palavra deficiência não se encaixa muito bem nelas.
Nasci em Recife e acredito que, quando dizem que os pernambucanos são ”arretados”, isso se encaixa perfeitamente na minha personalidade, uma vez que tenho o prazer de representar a força que esse povo tem. Aos dois anos e meio de idade estava no ponto com minha mãe quando um ônibus perdeu o controle, subiu na calçada e me atropelou. Como se não bastasse, o motorista tentou fugir e ainda me arrastou por alguns metros, passando por cima das minhas pernas. Imaginem o desespero da minha mãe naquele momento. Por sorte, havia um hospital em frente ao local do acidente e fui rapidamente encaminhada para lá. Os médicos falaram que cheguei com apenas 2% de chances de vida, pois sofri traumatismo craniano, vários hematomas e, infelizmente, não havia possibilidade alguma de recuperar as minhas pernas. E foi assim que tudo aconteceu, fazendo com que essa experiência se tornasse o meu primeiro aprendizado na vida sobre vitórias e derrotas.
Por causa do acidente e a fim de continuarmos ganhando essa batalha, meus pais decidiram sair de Recife em busca do melhor tratamento possível, o que viemos encontrar em Brasília. Durante toda minha infância, em meio a tratamentos, fisioterapias e essas coisas, tive o grande privilégio de ser criada e educada pelos meus pais de uma forma muito espontânea e independente, como qualquer outra criança que não tem nenhuma deficiência física.
Voltando o foco para o esporte, foi em Brasília que conheci o esporte adaptado. Inicialmente conheci a natação, modalidade em que passei alguns poucos anos da minha vida e consegui grandes vitórias também.
Ao lado da piscina onde treinava, porém, tinha uma quadra de tênis em que aconteciam aulas em cadeira de rodas. Aos poucos fui me interessando e percebendo que o meu esporte era aquele. Logo no meu primeiro ano na categoria adulta, alcancei o 27º lugar no ranking da ITF (International Tennis Federation) e no ano seguinte subi mais 5 posições.
Aos 17 anos, participei dos Jogos ParaPan-Americanos de Guadalajara (onde conheci a Jady Malavazzi, que também treina na Bodytech e se tornou uma grande amiga. Até hoje temos a oportunidade de treinar e compartilhar nossas experiências).
Aos 18 anos, participei dos Jogos Paralímpicos de Londres, sendo a primeira representante brasileira feminina do tênis em cadeira de rodas em Jogos Paralímpicos, mas infelizmente fui eliminada pela número três do ranking da ITF.
No início deste ano, visando a preparação para os Jogos ParaPan-Americanos de Toronto, investimos ainda mais nos treinos técnicos, táticos e na preparação física. Além dos treinos específicos de tênis em cadeira de rodas que faço com a equipe do CETEFE no Clube Cota Mil, conseguimos o apoio fantástico da Bodytech, iniciando os treinos de força e resistência muscular na academia Sudoeste.
Assim, três vezes por semana tenho treinos de duas a quatro horas de tênis. Em outros dois dias, treino na academia, fazendo fortalecimento e resistência muscular. Além disso, uma vez por semana, meu preparador físico nos leva para a piscina da Bodytech para fazer mais um treino de cardio ou relaxamento, dependendo da intensidade da semana.
As últimas semanas foram de muitas realizações e alegrias. Tão especiais que eu poderia dizer que foram os melhores dias da minha vida.
Em Toronto, conquistei duas medalhas de ouro nos Jogos ParaPan-Americanos (torneio de duplas com minha parceira Rejane e no torneio de simples). Enquanto comemorava no fim do jogo, ainda tive a honra de receber a notícia do presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro que havia sido escolhida para levar a bandeira brasileira na Cerimônia de Encerramento dos Jogos. Mas essa história conto melhor para vocês no próximo post!
*Natalia Mayara é atleta de Tênis em Cadeira de Rodas. Acumula diversos títulos nacionais e sul-americanos, sendo hoje a 24ª colocada no ranking da ITF. Atualmente é campeã ParaPan-Americana de simples e duplas e seu foco agora são os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Acompanhe a Nati nas redes sociais (@natalia_mayara no instagram ou sua fanpage Natalia Mayara).