“No dia 29 de outubro, competi no 70.3 Punta del Este, minha última prova do ano. Em função de uma lesão séria no calcâneo, não consegui treinar corrida como gostaria, o que me deixou pouco confiante e apreensivo quanto ao meu desempenho. Por isso, minha ideia era nadar e pedalar muito forte, abrindo vantagem em relação aos meus principais adversários, e ver o que poderia ser feito com os pés no chão, ao longo da meia maratona. Não fazia ideia do quanto a lesão iria atrapalhar, não sabia se correria em um ritmo razoável, se correria devagar ou se nem ao menos conseguiria correr.
A uma hora da largada, a organização divulgou a notícia de que a natação tinha sido cancelada. Ventos fortíssimos e água quase congelante foram os motivos. A prova tornou-se um duathlon, portanto, composto dos habituais 90km de ciclismo –mas com largadas individuais, a cada cinco segundos, por ordem numérica– e 21km de corrida. Fui um dos últimos a largar, imediatamente atrás do meu irmão (estreante em provas dessa distância), e, desde o início do ciclismo, já imprimi um ritmo bem forte. Na primeira das duas voltas, fiz força como se não houvesse mais nada depois, atacando o vento contra na ida e andando muito rápido no retorno; fazendo as subidas com alta potência e as descidas com máxima velocidade.
Na segunda volta, já bem cansado e dolorido, baixei a cabeça e tratei de me concentrar totalmente. Mantive o foco na técnica e na economia de energia, cuidando sempre da hidratação e da alimentação, e, mesmo com frequência cardíaca elevada (por volta de 180bc), sustentei um bom ritmo até o fim.
Não sabia ao certo em que posição estava, nem durante o ciclismo e nem ao descer da bike, mas tinha feito muita força e ultrapassado muita gente. Tinha noção de que já ocupava uma boa colocação e queria ganhar posições na corrida, independentemente da lesão, da dor e da falta de treino.
Buscava um lugar no pódio, queria muito fechar o ano com mais um bom resultado e a conquista de uma vaga para o mundial não saía da minha cabeça. Precisava, para obtê-la, ficar em primeiro ou em segundo lugar na categoria 25-29 anos. Corri a primeira metade administrando a fadiga gerada pelo ciclismo e já sendo atrapalhado pela lesão. Usei meu irmão como parâmetro, já que ele corre muito bem, e fui cuidando a diferença de tempo entre nós (não usei Garmin, apenas relógio com cronômetro).
Iniciei a segunda e última voltas cansado, claro, mas me sentindo bem e confiante. A dor no calcâneo era horrível a essa altura. Tentei abstraí-la, direcionando a energia e a concentração totalmente para a corrida, para a manutenção do bom ritmo que sustentava, para o ótimo resultado que se estava desenhando, para o pódio, para a vaga…
Fechei a prova em 3h41min, sendo 2h16min pedalando, 2min de transição e 1h23min correndo. Fiz tudo o que pude, dei tudo o que tinha, do início ao fim, mesclando estratégia de prova, consciência e racionalidade com audácia, risco, força bruta.
Deu certo! Cruzei o pórtico sorridente, comemorando, absolutamente satisfeito e vibrante. O prazer só aumentou quando, um minuto depois, vi meu irmão chegar, conquistando também um baita resultado. Fiquei muito feliz e orgulhoso de nós! A festa ficou completa quando, na premiação, horas depois, fomos chamados ao pódio, ele em 3º e eu em 2º lugar. Consegui a vaga para o Mundial de Ironman 70.3, em Sunshine Coast, na Austrália, em setembro do ano que vem, e fechei a temporada melhor do que eu previa. Que venha 2016!
*Walter Tlaija é triatleta e foi o melhor brasileiro colocado em sua categoria no IronMan no Havaí, ficando em 250º lugar entre os 2367 inscritos. Conquistou o segundo lugar na categoria 25-29 anos no 70.3 Punta Del Este (Uruguai), garantindo uma vaga para o Mundial de Ironman 70.3 em Sunshine Coast, na Austrália.