*Por Julia Valle, Instrutora Acqua Bodytech Copacabana 801 e São Clemente (RJ)

Quando assistimos a determinados jogos esportivos na televisão, notamos que competições em altitude elevada estão normalmente associadas ao comprometimento do desempenho dos atletas. Isso ocorre porque a pressão atmosférica nessas condições se encontra reduzida –é o chamado ambiente hipobárico–, o que significa que há uma menor quantidade de moléculas de oxigênio (O2) por volume de ar, limitando o transporte desse gás aos tecidos musculares. Alguns atletas, portanto, optam por permanecer ou treinar por um período nessas regiões de ar mais rarefeito, e agora entenderemos o motivo.

A exposição a altitudes elevadas afeta nosso organismo de algumas maneiras. Uma das primeiras adaptações fisiológicas observada é o aumento da ventilação pulmonar, já que precisamos de mais ar para suprir a mesma quantidade de O2 da respiração ao nível do mar. Outra alteração observada é o aumento da frequência cardíaca em exercício submáximo, numa tentativa de aumentar o volume de sangue liberado aos músculos. E a adaptação mais esperada por treinadores ao submeterem seus atletas ao treinamento em altitude é o aumento do número de hemácias, as células vermelhas do sangue. As hemácias contêm a hemoglobina, responsável pelo transporte de O2 necessário ao organismo.

A vantagem desse treinamento, principalmente para os atletas de endurance, é que, com uma maior concentração de hemoglobina na corrente sanguínea, o transporte e o fornecimento de O2 aos tecidos musculares são maiores quando comparados aos atletas que permanecem ao nível do mar. Isso, numa prova de longa distância, por exemplo, pode fazer a diferença.

Entretanto, “nem tudo são flores” no treinamento em altitude, pois, além de ser uma alternativa cara em virtude de transporte, acomodações, alimentação e outras despesas, o deslocamento para regiões de baixa pressão atmosférica traz consigo alguns pontos negativos, como diminuição da intensidade de treinamento e dificuldade de aclimatação.

Sendo assim, como as adaptações à altitude geralmente são respostas à hipóxia (baixa concentração de 02), alguns métodos de treinamento alternativos foram pensados nos últimos anos na tentativa de diminuir a pressão de O2 nos alvéolos sem a necessidade de subir grandes alturas.

No universo aquático de clubes e academias de ginástica do mundo todo, o nado submerso e o nado de crawl realizado com diminuição do número de inspirações por braçadas efetuadas (o chamado crawl bloqueado) são ferramentas que se tornaram bastante populares nos anos 1970, sendo ainda hoje largamente utilizadas. O intuito desses exercícios foi intensificar os treinamentos através da limitação de O2 disponível aos tecidos, simulando situações de baixa pressão atmosférica mesmo estando ao nível do mar.

Entretanto, esses métodos de treinamento simulando situações de hipóxia foram contestados e muitos estudos não verificaram alterações nas amostras de sangue, inclusive naqueles realizados com nadadores de alto nível. Esses resultados sugerem que seriam necessárias muitas horas de exposição contínua em situações com níveis baixos de O2 para se conseguir um aumento significativo do número de hemácias e hemoglobinas.

Por outro lado, alguns estudos verificaram que o treinamento em apneia pode impulsionar o metabolismo anaeróbio, que é a produção de energia sem a utilização do O2. Estamos falando aqui de exercícios de alta intensidade e de curta duração, pois não demoram mais que alguns minutos para a musculatura entrar em fadiga, tornando difícil manter a intensidade elevada.

Nesse sentido, o crawl bloqueado e o nado submerso são utilizados como estratégia para simular taxas de treinamento de alta intensidade, mesmo se exercitando em intensidade moderada, através da limitação de O2 disponível.

Em 2007, um grupo propôs uma nova abordagem de exercícios em apneia. Para eles, quando o bloqueio respiratório é realizado na maneira clássica (inspirando o ar e prendendo a respiração em seguida), mantendo um grande volume de ar nos pulmões, as reservas de O2 nos alvéolos são grandes também, e a troca dos gases fica facilitada, impedindo, assim, a obtenção de um efeito hipóxico. A nova abordagem seria expirar o ar até a capacidade residual funcional (que é o volume de ar que permanece nos pulmões após uma expiração normal) para só então suspender a respiração. Dessa forma, há bloqueio respiratório, mas com um volume pulmonar baixo.

Portanto, ao considerarmos essas evidências citadas acima, dificilmente algum proveito pode ser conseguido visando o aprimoramento do metabolismo aeróbio a partir da utilização da apneia na natação. Apesar de se apresentar vantajosa em relação ao sistema anaeróbio, a utilização do método do bloqueio respiratório com o volume pulmonar baixo nas aulas em ambientes de academia de ginástica acaba se tornando um pouco difícil já que há uma população bastante heterogenia de não atletas e porque seria necessário despender certo tempo para o ensino e familiarização da prática.

Entretanto, a utilização da técnica clássica do nado de crawl com bloqueio respiratório e do nado submerso podem se apresentar interessantes, não só pelo desafio proposto ao aluno, como também uma opção de variação nas aulas de natação. Além disso, treinar a realização do maior número de braçadas possível sem “buscar” o ar tem a sua vantagem em relação à mecânica do nado, pois menos movimentos rotacionais para realizar a inspiração significam menos oscilações, melhor equilíbrio corporal e, consequentemente, melhor coordenação do nado e menos arrasto provocado pela turbulência, condições facilitadoras para quem busca o aperfeiçoamento técnico ou para quem está iniciando na modalidade.