Uma fatia de bolo com bastante chocolate depois do treino pode, não é? Afinal de contas, você fez muitos exercícios, precisa repor as energias e merece um agrado. Mas não é bem assim que funciona. Essa é a fala universal de quem acredita no efeito compensação por merecimento: treinar para poder comer o que quiser e enfiar o pé na jaca sem dor na consciência. Mas os estudos mostram que esse ciclo tem consequências.

Em pesquisa publicada pelo American Journal of Clinical Nutrition, pesquisadores do Pennington Biomedical Research Center em Baton Rouge, Louisiana, e outras instituições, revelam que quanto mais nos exercitamos mais temos a necessidade de comer e, por isso, muitas pessoas não conseguem alcançar o objetivo final de emagrecer e se frustram.

Cuidado com o efeito compensação

O estudo foi realizado com 171 homens e mulheres sedentários, com excesso de peso e idades entre 18 e 65 anos, após serem medidos peso, taxas metabólicas de repouso, níveis típicos de fome, condicionamento aeróbico e ingestão diária de alimentos e gasto de energia.

Ao final do processo, os participantes que mantiveram suas rotinas não apresentaram alterações. Porém, o resultado foi o mesmo na maioria dos praticantes que entraram em programas de exercícios. Poucos perderam alguns quilos, cerca de dois terços dos que estavam no grupo de exercícios mais curtos, e 90% dos que estavam no grupo de exercícios mais longos não atingiram o objetivo esperado, pois tinham compensado a queima extra de calorias comendo ainda mais.

Tudo é sempre uma questão de equilíbrio

Segundo a nutricionista esportiva funcional, Bruna Lyrio, o ideal, que muitas pessoas não fazem, é comer bem para treinar e não treinar para comer. 

“A pessoa come bem de segunda a quinta, mas chega na sexta-feira ela manda o ‘sextou’ e vem a feijoada no almoço com a galera do trabalho e, à noite, têm os petiscos com as bebidinhas de happy hour. No sábado, tem a praia com um almoço na rua, uma pizza no final do dia e, chegando no domingo, vêm os encontros de família com a mesa farta e a conta não fecha”, conta Bruna.

Levar a vida com hábitos alimentares, como esses que Bruna explicou, não vão funcionar se o objetivo mesmo é conquistar massa magra corporal. Imagine o seguinte: de segunda a sexta, você consome uma média de 1500 kcal/dia com uma dieta balanceada; na sexta, 2200 kcal/dia, porque entraram umas besteirinhas no cardápio, e sábado e domingo chega a um total de 6000kcal com muita fartura. 

O resultado acaba não sendo muito animador, pois o esforço da semana toda foi parcialmente perdido em três dias de pé na jaca. Mas não coloque a culpa da dificuldade de emagrecer somente nos carboidratos (doces, pães, massas, etc). Diferente do que muitos pensam, eles não são os grandes vilões da história e, sim, o exagero.

Uma quantidade ideal de carboidratos pós-treino, por exemplo, ajuda a repor a reserva de glicogênio perdida durante o exercício, e a combinação com a proteína torna-se essencial para recuperação das células que sofreram danos.

Essa preocupação não é apenas por estética, mas por saúde também

O corpo acaba sendo enganado nesse desequilíbrio entre exercícios quase todos os dias e hábitos alimentares não muito saudáveis. O conhecido “efeito sanfona” – aquele engorda e emagrece recorrente – é uma das consequências oferecidas ao organismo nesse processo. Perda de massa muscular, aumento do colesterol, diabetes e doenças cardiovasculares são alguns dos prejuízos desse descontrole.

Existem exercícios físicos, aliados à uma alimentação adequada para cada pessoa e estilo de vida, que são mais eficazes que outros para auxiliar na perda de peso. A musculação é um deles, pois ajuda no emagrecimento e na construção de massa magra, além de fazer suar muito a camisa.

Treinar pela manhã ou à tarde é melhor que à noite?

De acordo com Bruna Lyrio, ao longo do dia, o cortisol (o hormônio do estresse) trabalha em picos, mas, à noite, ele precisa baixar para a melatonina (o hormônio ligado ao sono) aumentar e conseguir trabalhar bem. Isso é necessário para que a pessoa consiga descansar corpo e mente, porque o cortisol alto impede o emagrecimento – e esse não é o propósito, certo?

A nutricionista também afirma que quem deseja ter uma vida mais saudável, se adaptando a uma alimentação balanceada e praticando exercícios regularmente, precisa ter o direcionamento de um profissional – tanto no consultório, quanto na academia. É necessário entender, antes de dar qualquer passo, quais são os objetivos, o histórico nutricional, a quantidade de gordura corporal e outros fatores que auxiliem na mudança para um novo momento de mais cuidado com a saúde.