*Por Lara Hausen Mizoguchi, analista de MKT Digital da Bodytech
No último feriado, o de Corpus Christi, fiz a travessia Teresópolis – Petrópolis, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), no Rio de Janeiro. Mesmo comprando os ingressos com mais de um mês de antecedência, o sentido “tradicional” já estava esgotado, então nos restou fazer a rota contrária – que é bastante comum também.
Foram três dias de muita emoção, aventura e superação. Como estava com três rapazes (e era a única mulher), fui poupada de carregar muito peso. Barraca e comidas mais pesadas, por exemplo, ficaram com eles. Para mim, sobraram saco de dormir, roupas e comidas mais leves. Isso ajudou muito para que eu conseguisse completar a trilha. Então, a primeira dica é: não carregar coisas desnecessárias ou muito pesadas.
Fazer uma preparação antes dessas trilhas é bem importante pois há de tudo: caminhada, subida, descida, escalada básica, escadas, caminhos rochosos e outros escorregadios. Eu costumo fazer trilhas, mas mais curtas. Foi a primeira vez que fiz uma travessia. Foi pesado, fiquei dolorida, mas valeu muito a pena. O visual – por quase todo trajeto é possível ver o Dedo de Deus e diversas montanhas – é maravilhoso. Além disso, poder olhar pra trás e ver direitinho todas as subidas e descidas é sensacional.
Veja como foi o trajeto:
Dia 1: Teresópolis – Pedra do Sino
Pegamos o ônibus do Rio de Janeiro para Teresópolis às 7h. Como levamos as mochilas conosco na parte de cima do ônibus, o motorista parou na entrada do parque para nós. Na entrada, registramos a nossa chegada, mostramos o termo de responsabilidade e fomos ao Centro de Visitantes, onde tem uma maquete do parque em que as diversas trilhas da Serra dos Órgãos são sinalizadas, além dos principais pontos da região, como os abrigos. Lá também é possível assistir a um vídeo das trilhas.
Tomamos café da manhã na cafeteria e começamos a caminhar pelas 9h30. Teríamos 3km pela frente até chegar o início da trilha – onde fica o estacionamento para quem vai de carro –, mas, por sorte, dois funcionários do parque nos deram carona.
Pelas 10h, começamos, então, a travessia. Esse dia é o mais tranquilo dos três. O trajeto tem 11km de extensão e é basicamente subida. Fomos num ritmo bom e, por volta das 14h30, já tínhamos chegado ao primeiro abrigo, chamado Abrigo 4 (Sino). No caminho, paramos em alguns pontos para ver a vista e comer –almoçamos no meio da trilha– e, quando chegamos ao destino, estava bem frio e úmido.
Tínhamos planejado subir a Pedra do Sino para ver o pôr do sol, mas, como o tempo estava fechado, acabamos ficando por ali mesmo. Além do camping –dá para alugar ou usar suas próprias barracas– , é possível ficar em beliches ou bivaques, em que a pessoa dorme no chão em um quarto dividido com mais gente.
Pelas 18h30 começamos a fazer o jantar –massa com caldo de legumes e sopa de vegetais– e, pelas 20h, já estávamos deitados para dormir. Foi uma noite de bastante frio. Por isso, é bem importante levar roupas quentes.
Dia 2: Pedra do Sino – Açu
Acordamos às 5h30 para subir a Pedra do Sino (2.275m de altitude) e tentar ver o nascer do sol. É uma subida de cerca de 30 minutos. Como estava com muita neblina, não conseguimos ver muita coisa. Foi divertido o pessoal gritando a cada vez que as nuvens davam uma trégua. Mas não rolou ver a vista. Voltamos ao abrigo, tomamos café, desarmamos o acampamento e, às 8h30, saímos rumo ao Açu. Esse trajeto é bem difícil, o mais exigente dos três dias.
Ha diversas partes que são bem complicadas, como o cavalinho, o elevador e o mergulho. Para o cavalinho, é aconselhável usar cordas. Quando estávamos descendo, encontramos um grupo com quatro homens que já tinha colocado a corda, então aproveitamos a viagem deles. Todos eles fizeram uma linha para que as mochilas fossem passadas de mão em mão até chegar a mim –fiquei encarregada de organizá-las no chão. A descida, para mim, que sou pequena, foi um pouco tensa, e todos me ajudaram. É bem legal ver essa parceria nessas caminhadas.
O “elevador” são grampos de ferro encravados na parede por cerca de 50m. Imagino que a subida seja mais tranquila que a descida. É como se fosse uma escada, mas sem proteção alguma. Como já estava bem cansada –foi na metade para o final da trilha–, senti que meus braços e pernas não iriam aguentar. Mas aguentaram!
Nesse trecho, passamos pelos seguintes pontos: Pedra do Sino, Pedra da Baleia, Vale das Antas, Elevador, Morro do Dinossauro –de onde vemos a Pedra do Sino, o Vale das Antas e a Pedra do Garrafão–, Cachoeirinha, Morro da Luva, Vale da Luva e Morro do Marco.
Ou seja, é um dia inteiro de subida e descida. Como boa parte da trilha é em pedras, é muito fácil se perder. A dica é seguir as flechas (amarelas com um “T” para quem vai para Teresópolis e brancas com um “P” para quem vai para Petrópolis). Além disso, os tótens também ajudam bastante. Acho que foram as melhores sinalizações, no fim, já que as setas são no chão e de longe não dá pra ver muito bem. O Parque aconselha a fazer a travessia acompanhado por um guia. Para quem quer se arriscar, um GPS ou o aplicativo Wikiloc podem ser uma boa. Nele você pode ver direitinho o percurso que outras pessoas fizeram e gravar o seu.
O dia foi bem puxado, muito cansaço mesmo. Mas cerca de 300 metros antes de chegar ao Abrigo Açu (2.158km de altitude), uma surpresa: vimos uma cobra. Resultado: eu, que estava exausta, fiz o final da trilha correndo.
Chegamos ao abrigo pelas 16h e montamos as barracas. Ficamos entre duas pedras enormes, que nos protegeram do vento. Depois, subimos até o mirante para ver o por do sol e foi lindo. Valeu a pena.
Por volta das 18h, começamos a preparar o jantar –mais um dia de massa e sopa de cebola. Pelas 19h30 eu já estava deitada, pronta para dormir. Nesse dia, caminhamos 8km. Embora seja mais curta, a trilha é muito mais difícil, por isso demoramos muito mais tempo. E, lá do alto, uma vista maravilhosa: a Baía de Guanabara, com toda as montanhas e morros do Rio. De tirar o fôlego!
Dia 3: Açu – Petrópolis
Acordamos às 6h para ver o nascer do sol. E, desta vez, tivemos sorte! Por volta das 6h30 –um pouquinho preguiçoso já que a previsão era para as 6h20–, o astro-rei resolveu aparecer lá no fundo das montanhas. Foi lindo demais. Só tivemos que subir uma pedra –justamente a que nos protegia– para conseguirmos ter uma vista de todas as montanhas para um lado e do Rio e Baixada Fluminense para o outro. Incrível!
Voltamos para o acampamento, tomamos café da manhã, desmontamos as barracas e começamos o último dia. Pelas 9h já estávamos fazendo a descida –que, para mim, é a pior parte porque é quando meu joelho sofre. É uma trilha mais inclinada do que a do primeiro dia, com bastante parte nas pedras, algumas protegidas pelas árvores, outras mais abertas.
Nas três trilhas encontramos bastante barro. É preciso ter bastante cuidado para não escorregar. Naquele dia, havia muitas partes com chão bem seco, que também requer cuidado para não derrapar.
Por volta das 11h40 chegamos à Gruta do Presidente –tem que desviar um pouco do caminho, mas vale a pena. Já estávamos com muita fome, então aproveitamos para almoçar por ali e lagartear no sol. Entramos por 5 segundos na água e congelamos! Mas foi bom para recuperar. Descansamos bastante e curtimos muito a tranquilidade do lugar.
Naquele ponto, há muita gente porque as pessoas sobem somente até o Véu da Noiva (a cachoeira que fomos depois, e fica a uns 5 minutos dali) e voltam para Petrópolis. A cachoeira é bem bonita também. São 40m de queda. Só fomos até lá e, como estava muito frio, voltamos e continuamos a descida.
Chegamos a Petrópolis às 13h45, e eu estava exausta. Tivemos que caminhar até o ponto do ônibus. Pegamos um até o Terminal Correias e de lá outro para a rodoviária de Petrópolis. Conseguimos um ônibus às 16h30 para o Rio de Janeiro e às 18h já estávamos de volta.
Valores
Ingresso (Sede Teresópolis) – R$ 14
Trilha de montanha (Sede Teresópolis-Pedra do Sino) – R$ 22
Trilha de montanha (Pedra do Sino – Açu) – R$ 11
Trilha de montanha (Açu-Sede Petrópolis) – R$ 11
Camping – R$ 18 (No Abrigo Açu só é permitido acampar, já que ele está em reforma)
Beliche – R$ 40
Bivaque – R$ 25
Aluguel de barraca – R$ 40 (eles montam e desmontam, e não é necessário carregar o peso)
Banho
O banho de água quente, disponível somente no Abrigo 4 já que o Açu está em reformas, sai por R$ 20 (cinco minutos). O motivo é simples: os funcionários precisam carregar das sedes até os abrigos os botijões de gás em mochilas.
Antecedência da compra dos ingressos
É importante comprar os ingressos com bastante antecedência. Compramos com mais de um mês e tinham poucos ingressos e apenas no sentido Teresópolis-Petrópolis.
O que levar
Tênis muito confortável
Um bastão ajuda bastante
Roupa para inverno, incluindo capa de chuva (mesmo que a previsão não seja de chuva)
Comida para os três dias (lá em cima você não consegue comprar nada)
Água (é sempre bom ter uma garrafa de água cheia, mas, durante o trajeto, há diversos pontos de água potável)
Corda
Lanterna
Canivete
Protetor solar
Repelente
Lembre-se que a temperatura de Petrópolis ou Teresópolis não é a mesma da travessia, já que estamos mais no alto.
Fotos: Lara Mizoguchi e Lucas Pinheiro