*Por Cindy Wilk (texto e foto)
A Índia é forte. Tudo aqui é superlativo, colorido, condimentado, caótico e cifrado para um cérebro ocidental. O número de habitantes é de 1,2 bilhão, quatro vezes mais compactados que os chineses.
O inglês é a segunda língua de 10% da população do país, que tem nada menos que 22 idiomas oficiais — sendo o hindi o mais falado –, além de 400 dialetos. Mais confuso que isso somente o hinduísmo, praticado por 80% da população, com 330 milhões de divindades.
Viajar por aqui irrita (trânsito, burocracia), reconforta (paisagens e incenso no ar), alimenta o corpo (gastronomia, yoga, spas), ilumina a alma (espiritualidade, tradição, arte) e entristece (miséria e doenças).
Poucos destinos têm o poder de provocar tantas reações contraditórias e experiências extremas. Leia mais sobre Delhi e o Taj Mahal.
Delhi, a força da transformação
A maioria dos viajantes começa a aventura em Delhi. O grau de choque inicial, entretanto, é inversamente proporcional ao investimento feito na viagem.
Quem desembolsa ao menos 250 dólares por noite em algum clássico hotel top de Nova Delhi surpreende-se ao ver da janela uma das cidades mais verdes do mundo. Graças à cruzada ambiental que saiu plantando em áreas abandonadas, aumentando o tapete urbano em 20% desde 1993.
Inaugurada pelo império britânico ao transferir sua capital de Calcutá em 1931, Nova Delhi é uma cidade planejada, com amplos bulevares ao estilo inglês, conectados por rotatórias e belos parques, alguns cheios de história. Caso do Lodi Gardens, onde antigas tumbas de sultões das dinastias Lodi e Sayyid, que governavam a cidade na virada dos séculos XV e XVI, foram cercadas por belos jardins.
Connaught Place é o coração dessa capital britânica e também sua fronteira. Mais ao norte, já em Paharganj, especialmente na mochileira região do Main Bazaar, viajantes com menos cacife veem uma Delhi onde o Earl Grey com scones dá lugar ao Chai, com especiarias fervidas em caldeirões no meio da caótica rua. O Main Bazaar parece mais arrumadinho depois de uma visita a Old Delhi, aí, sim, um mergulho no que Delhi tem de mais Índia. Aqui, mochileiros e endinheirados percorrem a labiríntica sucessão de bazares a bordo de riquixás.
De temperos a saris para casamento, passando por sapatarias ou lojas de panelas, cada ruela tem a sua especialidade. Para arrematar coisas mais ao gosto ocidental, melhor ir ao Khan Market, em Nova Delhi.
Old Delhi guarda importantes marcas do que era a cidade durante o império mugal. Do século XVII, o Red Fort e a mesquita de Jama Masjid, a maior da Índia, são oásis perfeitos para baixar os decibéis e acalmar os nervos em aclimatação.
Ainda mais ao sul, já na periferia da cidade, o complexo de mesquita e minaretes Qtub Minar já foi o coração da Delhi islâmica no fim do século XIII e hoje é um relaxante passeio ao pôr do sol.
Paz bem mais perturbadora sente-se no Gandhi Smriti, memorial erguido no exato local onde, em 30 de janeiro de 1948, o líder da independência indiana, Mahatma Gandhi, foi assassinado. Aquele que dizia “O amor é a força mais sutil do mundo”.
Onde ficar
Taj Palace
Serviço impecável, é um clássico de Nova Delhi. Da mesma rede e um pouco mais econômico, o Taj Mahal é também boa opção. Seu restaurante indiano contemporâneo Varq impressiona.
The Lodhi
Contemporâneo e superbem localizado. Todos os quartos deste 5 estrelas têm piscinas privativas.
Onde comer
Indian Accent
Indiano localizado num luxuoso hotel-butique de apenas 10 quartos. O inventivo menu degustação é uma experiência única.
Taj Mahal, a força do amor
De costas: com o Rio Yamuna em primeiro plano, ao anoitecer. De frente: aproximando-se lentamante, ao nascer do sol, de modo a ver os primeiros raios da manhã refletidos no mármore alvo e todo o prédio duplicado pelo espelho-d’água. De perto: estudando o delicado padrão floral, ora em relevo, ora colorido por gemas preciosas e semipreciosas misturadas à pedra. Distante três horas de trem de Delhi, Agra até tem outras atrações, mas todas devidamente ofuscadas pela beleza infame do mausoléu construído pelo príncipe mugal Shah Jahan para sua amada terceira mulher, Mumtaz Mahal, morta ao dar à luz o seu décimo quarto filho, em 1631.
Olhar o Taj Mahal não cansa. Mas a extravagante declaração de amor custou caro aos cofres públicos e ao príncipe, que acabou aprisionado no Agra Fort pelo próprio filho após a obra.
Até o fim de seus dias, tristemente, pôde ver de lá sua criação. Mais ou menos da mesma distância que os hóspedes do Hotel Oberoi o enxergam de suas varandas.
Onde ficar/comer
The Oberoi Amarvillas Agra
O edifício é novo, mas construído em estilo mugal. Vista para o Taj Mahal em todos os quartos. O restaurante Esphahan serve ótimo thali, um mix de especialidades locais.
Cindy Wilk é jornalista e autora do blog O Mundo É uma Viagem. Ela voltou à Índia dez anos depois de sua primeira viagem para lá. Na primeira vez, mochilou, Agora, fez um incrível circuito de luxo. “São universos paralelos, mas ambos fascinantes”, diz.