A experiência de surfar com botas, luvas, capuz e uma roupa de borracha de 6 milímetros. E o melhor de tudo: à meia-noite num mar de 2 metros em pleno Oceano Ártico. Doideira?
Bom, deixa eu explicar melhor. Essa experiência teve como cenário a Noruega, mais precisamente um vilarejo chamado Unstad, que fica em uma região chamada de Lofoten, mais ao norte do país. Além de centenas de trilhas e um cenário mais pitoresco que o outro, descobri que também haveria surf.
O pico de surf é na praia de Unstad, uma vila bem grande, com o número impressionante de 13 habitantes. Isso mesmo… Mas, para minha surpresa, havia dois “Surf sentrum” (dispensa tradução, né?). Fui num “sentrum” superbacana. Com cabines para alugar num estilo pousada, gramadão para acampar, restaurante/café, escola de surf, bicicletas estilo “fat-bike” (pneu grosso para andar na neve e grama) e aluguel de todo equipamento de surf.
Unstad é relativamente conhecida por aparecer diversas vezes em matérias de surf na revista “Surfer”. Eis o motivo de a pousada estar completamente lotada de surfistas querendo praticar o esporte de madrugada pela primeira vez na vida, além de membros da equipe de surf da Noruega treinando (se quiser, 24 horas por dia de treino…).
A parte do sol é bem interessante. No verão (de junho a agosto), a região não tem noite. Ou seja, é sol 24 horas por dia. Para ser mais preciso, o pôr-do-sol é à meia-noite e meia, e o nascer do sol acontece uma hora e 20 depois. E, nesse intervalo, o sol fica por ali, escondidinho, um pouco abaixo do horizonte, deixando tudo completamente claro.
O mar em si tinha um tamanho bom, mas a qualidade das ondas deixou a desejar. Bem mexido e fechando bastante. Mas era de se esperar por ser “verão” (aspas mesmo, já que de “verão” não tem nada! O mar fica com uma temperatura de 5 graus e, quando entrei na água, os termômetros estavam marcando 7 graus). O mar fica bom mesmo no inverno. Mas, por sorte, pelo menos tinha um tamanho, o que é raro nessa época.
De qualquer forma, queria entrar no mar pela experiência. Então, vamos lá!
Depois de jantar e ir ver o mar de fat-bike (enrolando para enfrentar o frio), resolvi que tinha que ir surfar, pois essas são oportunidades únicas que ficam marcadas para o resto da vida. Aluguei e botei a roupa de borracha supergrossa, bota, luva etc., peguei a prancha e lá fui eu.
Inicialmente me senti agoniado com a roupa, que, por ser tão grossa, dificultava o movimento, limitava a audição e pesava MUITO! Mas é essencial pelo frio. Impossível surfar com uma roupa de 3 milímetros. As montanhas têm até resquícios de neve do inverno em pleno “verão”. Não sei por que escrevi que “inicialmente” fiquei agoniado com a roupa, já que, em momento algum me acostumei ou deixei de ficar agoniado, mas, pelo menos, não senti frio nenhum.
O mar também não contribuiu muito, tinha um período de 8 segundos entre as ondas, o que significa que tive que furar umas mil ondas para chegar no pico. Portanto, com apenas uns 15 minutos de surf já estava completamente morto –equivalente a uma session de 3-4 horas no Rio. Sério! Peguei 3 ondas “ok” e não aguentava mais. Se não fossem pelos treinos especializados feitos na Bodytech para aumentar meu rendimento nos esportes, não teria conseguido remar nem até o pico!
Acho que também tem que se levar em conta que o surf foi à noite (depois de um longo dia e uma corrida de 10km). Algo que não estamos nem um pouco acostumados; normalmente surfamos de manhãzinha com toda aquela energia depois do café matinal. Pouco depois da meia-noite, saí da água para curtir o pôr-do-sol e tirar aquela roupa que em mais alguns poucos minutos me mataria! Que agonia!
Valeu a pena? Eu indicaria? É claro, mas não para uma surf trip. Repetiria? Hum… Talvez, com altas ondas, no inverno… Inverno? Prefiro Hawaii ou Indonésia!
Vale dar um confere no vídeo da Surfer de Unstad (link aqui) no inverno, altas ondas!
*Rafael Hansen é um apaixonado por fotografia e esportes radicais e busca conhecer e experimentar todos os tipos de modalidades “extreme” possíveis, dos esportes mais comuns, como o surfe e o snowboard, aos menos populares, como mountainboard. Ele viaja por diversos cantos do mundo buscando boas condições para praticar seus esportes e conhecer novas modalidades. Todas as suas aventuras são compartilhadas com seus seguidores no Instagram @RafaHansen e em seu blog. O grande intuito é repassar o lifestyle e incentivar as pessoas a se tornarem mais ativas e saudáveis.