Você sabia que manter hábitos saudáveis evita inúmeras doenças do coração? De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 14 milhões de brasileiros têm alguma doença cardiovascular. No Brasil, as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte, representando 30% de todas elas. Segundo o Cardiômetro, indicador criado pela SBC, representam mais de 1.100 mortes por dia.

Segundo Tatiana Rocha, cardiologista graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora, a prevenção da DCV (doença cardiovascular), sob um ponto de vista global de saúde pública, passa, inevitavelmente, pelo controle dos fatores de risco, para que seja algo sustentável a longo prazo. Ela ainda completa que: “a modificação do estilo de vida é uma peça chave fundamental para a saúde do coração. Para que uma doença seja curada, é necessário agir na sua causa e a quase totalidade das doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, diabetes, infarto, câncer e Alzheimer se originam de um estilo de vida ruim”.

Hábitos saudáveis são importantes para o coração

De acordo com a cardiologista, com exceção das cardiopatias congênitas, praticamente todas as doenças do coração podem ser evitadas ou amenizadas com hábitos mais saudáveis. Doença coronariana, hipertensão arterial e insuficiência cardíaca estão entre as principais causas de morbi-mortalidade e podem ser não somente prevenidas, mas também revertidas, dependendo da intensidade, modificando o estilo de vida.

Tatiana ainda reforça que a prevenção da DCV começa na infância e os pais devem ser os maiores exemplos para as crianças. Mas então, se não tive um estilo de vida saudável na infância, já é tarde demais? Não. “O segredo mais bem guardado da medicina é o seguinte: em condições apropriadas, o corpo se cura. Ele está o tempo todo tentando se curar, você só precisa dar uma chance” explica a médica.

6 hábitos para um coração saudável

Para se adaptar a uma rotina é necessário tempo e, por isso, quanto mais cedo você adotar hábitos saudáveis para o seu coração, melhor. Então Tatiana Rocha lista seis pilares para a prevenção das doenças cardiovasculares:

1) Cuide da sua alimentação: aumente o consumo diário de frutas, verduras, legumes, cereais integrais, castanhas, nozes e evite alimentos processados e ultraprocessados, carnes e laticínios. O seu alimento deve vir da natureza. Uma dieta baseada em plantas reduz a inflamação subclínica e o risco de DCV.

2) Pratique atividade física: a recomendação ideal é um mínimo de 150 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana ou 75 minutos de atividade intensa mais dois dias de fortalecimento muscular. Também é importante não passar muito tempo do seu dia sentado. A cada hora, levante-se e faça, pelo menos, uma caminhada leve. O estudo “Association of Daily Step and Step Intensity With Mortality Among US Adults” , publicado na revista Jama, demonstrou uma redução de mortalidade por todas as causas com cerca de 8000-10000 passos por dia.

3) Tenha boas noites de sono: um sono de má qualidade gera aumento da pressão arterial, desregulação metabólica e inflamação sistêmica, aumentando o risco de câncer, diabetes, AVC, arritmia e infarto. Faça um detox de luzes e telas uma hora antes de dormir, evite bebidas estimulantes após o meio-dia e alimentos ricos em açúcar e sódio no jantar.

4) Reduza o estresse diário: o estresse crônico aumenta a liberação de cortisol e adrenalina, além de reduzir o volume do hipocampo, região do cérebro responsável pela memória. Indivíduos sob constante estresse são mais propensos a Alzheimer, diabetes, hipertensão e infarto. Busque formas de lidar com ele, reduza a autocrítica, pratique meditação e mantenha contato com a natureza.

5) Cultive relacionamentos saudáveis: somos seres sociais e necessitamos de amor e companheirismo. A solidão e o isolamento social geram inflamação subclínica. Por outro lado, relacionamentos saudáveis e engajamento social manterão o seu coração e o seu cérebro mais saudáveis.

6) Evite o abuso de tabaco e bebidas alcoólicas: o tabagismo e o consumo abusivo de álcool são deletérios à sua saúde. A maioria das pessoas que abusa não sabe que está abusando. Segundo o Inca, não há nível seguro de consumo de álcool para mulheres, quando o assunto é câncer. Também devemos tomar cuidado com a ingestão de microplásticos. Estima-se que ingerimos cerca de um cartão de crédito por semana.

Sinais e fatores de risco

“Extensas pesquisas sobre as causas das doenças cardiovasculares têm sido realizadas desde a metade do século 20 e estabeleceram fatores individuais como tabagismo, hipertensão, diabetes e dislipidemia”, afirma Rocha. Entretanto, um estudo recente, feito em 52 países, chamado Interheart Study, apontou 9 fatores como responsáveis por mais de 90% dos casos de infarto agudo do miocárdio. Dentre os fatores apontados no Interheart, podemos destacar a alimentação pobre em frutas e vegetais e rica em gorduras trans, saturada, açúcares e produtos industrializados. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma dieta inadequada é o principal fator de risco para mortalidade precoce ao redor do mundo. 

Outro fator importante também é o consumo abusivo de álcool e tabaco e a obesidade. A obesidade é um dos fatores preponderantes para explicar o aumento da carga de doenças crônicas não-transmissíveis, uma vez que está associada frequentemente a enfermidades como hipertensão, dislipidemias, diabetes tipo 2, certos tipos de câncer, sendo também apontada como importante condição que predispõe à mortalidade.

Por último podemos destacar o sedentarismo e o estresse crônico. A falta de atividade física é um dos maiores problemas de saúde pública, sendo fortemente relacionado à mortalidade por doenças cardiovasculares. Além de uma rotina de exercícios diários, as pausas ativas ocupacionais também são fundamentais para a redução da mortalidade. Já o estresse, quando estamos estressados, nosso cérebro interpreta como se fosse uma situação de risco ou perigo e libera diversos hormônios como a adrenalina, o cortisol e a norepinefrina, que além de contribuir para o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, também geram inflamação subclínica.

Além de ter hábitos saudáveis, é importante que homens e mulheres adultos realizem anualmente uma consulta ao cardiologista, mesmo sem fatores de risco ou algum sintoma. A médica ainda pontua que alguns sintomas não devem ser ignorados, são eles: falta de ar,  dor no peito,  ponta dos dedos azuladas, palpitação ou coração acelerado, fraqueza ou cansaço sem causa aparente, tontura e pernas inchadas.