*Por Emi Shima para a revista “BT Experience”

Estamos conectados com o mundo praticamente o tempo todo, por meio de redes sociais via smartphones, tablets e notebooks. Em alguns momentos, porém, devido a essa hiperconectividade, podemos nos desconectar e não perceber nosso corpo, pensamentos e sentimentos. Passamos a viver dispersos e distraídos, sempre atrasados, sem tempo para nós mesmos. Qual é a saída para nos reconectarmos?

Para o irlandês radicado no Brasil Stephen Little, um dos responsáveis pela introdução da meditação mindfulness no país e há mais de 21 anos trabalhando nessa área, meditar pode ser o caminho.

“Por meio dela, aprendemos a entrar em contato com as sensações básicas da vida, a apreciar cada segundo, e a viver o aqui e agora”, observa.

A meditação mindfulness —traduzida por “atenção plena”– é uma prática de inspiração oriental que vem ganhando cada vez mais espaço por aqui. Ela se apresenta como recurso para reconectar corpo e mente, humanizar as relações e reduzir o estresse nosso de cada dia –e as doenças decorrentes dele.

Essa abordagem foi popularizada pelo biólogo norte-americano Jon Kabat-Zinn, da Universidade de Massachusetts, no fim da década de 1970. Trata-se de uma técnica bastante difundida e estudada, em especial por estar desvinculada de qualquer religião. Quando chegou ao país, na década de 1990, havia poucos seguidores. Hoje, a prática está presente em empresas, serviços públicos de saúde e privados, universidades e em academias, inclusive nas 45 Bodytech em todo o país.

Mas, afinal, em que consiste a meditação mindfulness?

“No Ocidente, é conhecida como uma prática contemplativa de integração de corpo e mente, com consciência no que acontece no momento presente”, explica Elisa H. Kozasa, bióloga e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, que realiza estudos nessa área desde 1999.

Stephen Little complementa: “Meditar não é desativar o pensamento nem controlar a mente, mas praticar a capacidade de ficar com aquilo que está surgindo”.

Pesquisas realizadas em conceituadas universidades brasileiras e estrangeiras comprovam os benefícios da meditação mindfulness. Aqui, além do Albert Einstein, a Universidade Federal de São Paulo investe em estudos sobre os efeitos dessa técnica de meditação na saúde física e mental.

Por trazer muitos benefícios, cada vez mais pessoas se interessam pela prática. Para Maria Cristina Barbosa, instrutora de ioga e meditação da Academia Bodytech – Eldorado, um dos principais ganhos é o resgate do contato consigo mesmo. “Vivemos num mundo saturado de informação. Meditar é varrer do pensamento ruídos desnecessários.”

A lista dos efeitos positivos no âmbito mental e emocional não para aí. Segundo Marcelo Demarzo, instrutor de meditação mindfulness, pesquisador e coordenador do Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde da Universidade Federal de São Paulo, a meditação é um recurso que disciplina a mente, promove autoconhecimento, relaxamento, consciência corporal, além de amplificar a capacidade de contemplação e reflexão.

“Quem medita torna-se mais consciente de seu funcionamento mental, em especial de seus padrões disfuncionais, pensamentos negativos, que, em geral, produzem estresse e geram dificuldade no cotidiano”, afirma Demarzo. Stephen Little garante que a prática frequente oferece ferramentas que ajudam a prevenir explosões emocionais ou crises de ansiedade. “Conseguimos manter a calma e nos renovar logo após uma crise ou até no meio de uma.”

Um estudo realizado na Escola de Medicina da Emory University (Atlanta, EUA) demonstrou que as funções cerebrais de quem medita são mais eficientes durante tarefas que exigem atenção e, de quebra, há menos gasto de energia.

Já a pesquisa recente do jornal Lancet, reconhecido e prestigiado pela comunidade médica internacional, apontou que um dos programas de meditação mindfulness mais usados na medicina e psicologia (Mindfulness Based Cognitive Therapy) é eficaz na prevenção de recaídas de pacientes com depressão.

“Definitivamente, a meditação deixou de ser uma prática alternativa e passou a ser uma terapia tão importante e eficaz quanto os remédios”, declara Demarzo.

Mente quieta
Ao acalmar a mente, a meditação ajuda também a prevenir doenças, compulsões e hábitos inadequados decorrentes do estresse, como alimentar-se em excesso, abusar do tabaco ou álcool. “A prática regular possibilita a restauração de funções fisiológicas do organismo comprometidas pelo estresse, melhora a qualidade do sono e aumenta a imunidade evitando o surgimento de doenças“, relata Demarzo.

Sob o ponto de vista físico, a pesquisadora Elisa Kozasa enumera benefícios a curto prazo, como melhora da função respiratória, redução da frequência cardíaca, aumento do relaxamento muscular periférico e diminuição dos níveis de adrenalina e cortisol. Ela ressalta, ainda, que no hospital Albert Einstein a meditação tem sido usada como auxiliar em tratamentos do câncer. Estudos comprovam que a técnica propicia maior atividade do córtex frontal esquerdo, que, por sua vez, produz a sensação de serenidade e cria maior capacidade de superar emoções negativas. “A prática também ajuda o paciente a ter distanciamento das emoções, o que evita fluxos de pensamentos negativos, que podem prejudicar o tratamento”, completa Elisa.