Com o bombardeio de informações sobre dietas no/low carb, às vezes parece um crime seguir comendo pão, batata e arroz. Mas será que isso faz sentido mesmo se tivermos uma alimentação equilibrada e repleta de alimentos naturais? Adepta de uma nutrição possível e sem proibições, a nutricionista Julia Marques explica que o carboidrato tem muita importância para o funcionamento do organismo e que abrir mão dele de forma radical pode trazer consequências negativas a curto, médio e longo prazo. Para saber quais são as funções do carbo e entender por que torná-lo vilão não é uma boa saída para saúde física e metal da maioria das pessoas, nós batemos um papo com a Julia. Confira!

Blog BT: O que é o carboidrato? Qual a importância dele para o nosso corpo?

Nutricionista Julia Marques: O carboidrato é um macronutriente formado por carbono, hidrogênio e oxigênio. Quando ele é “quebrado” no organismo dá origem à glicose. Essa glicose é a principal fonte de energia para o corpo. Sendo assim, a presença de carboidrato na dieta é importante para que tenhamos energia suficiente para manter nossas funções vitais e atividades do dia a dia.

Blog BT: Quais são os riscos de cortar o carboidrato da dieta a curto, médio e longo prazo?

Nutricionista Julia Marques: Quando cortamos os carboidratos, reduzimos de forma brusca a ingestão calórica diária, o que faz com que tenhamos uma quantidade menor de nutrientes e energia para funções vitais. Dessa maneira, a curto prazo vemos como consequência disso a falta de energia, dores de cabeça, cansaço e indisposição. A médio prazo, conseguimos identificar uma queda na imunidade e o aparecimento de quadros alérgicos e infecções oportunistas que passam a aparecer com mais frequência. Já quando permanecemos por muito tempo em restrição calórica severa, proveniente do corte desse macronutriente da dieta, pode ocorrer uma redução da taxa metabólica basal, ou seja, uma redução do gasto calórico diário. Esse quadro é conhecido também como o sempre tão temido “metabolismo lento”.

Blog BT: Quais são os efeitos de dietas proibicionistas para saúde mental? 

Nutricionista Julia Marques: O ciclo das dietas restritivas é muito claro: restrição gera frustração que gera desejo exagerado e que, por fim, gera compulsão. Depois da compulsão, vem a culpa e o início de um novo ciclo de restrições. Durante muito tempo, a humanidade utilizou os alimentos para o único fim que eles devem realmente ter: a nutrição. No momento em que a estética passou a ser o centro das atenções, alguns alimentos passaram a assumir o papel de vilões do “corpo perfeito” e o ato de se alimentar passou a ser fonte de culpa e sofrimento. O alimento deve voltar a ser visto como fonte de vida, energia e nutrientes para que as pessoas possam se enxergar e enxergar a comida com mais carinho. 

Blog BT: Muita gente aposta nas dietas zero carboidrato por determinado período específico pra acelerar o processo de emagrecimento. Como você avaliar essa estratégia?

Nutricionista Julia Marques: Avalio como uma estratégia pouco inteligente. As dietas muito restritas ou zeradas em carboidrato podem até acelerar a perda de peso num curto espaço de tempo, porém fazem com que o paciente entre naquele mesmo ciclo de restrições que gera consumo posterior em excesso. Então será que perder muito peso em pouco tempo, mas recuperá-lo todo em menos tempo ainda é uma boa estratégia? Além da redução do metabolismo que ocorre num processo de restrição calórica severa, de forma que e torna muito mais difícil perder mais peso depois.  

Blog BT: Boa parte das pessoas acredita que o carboidrato na dieta dificulta o ganho de massa e que aumentar a quantidade de proteína é a melhor saída pra quem quer aumentar a massa magra. Isso faz sentido?

Nutricionista Julia Marques: Não faz sentido! Nós já sabemos que para hipertrofia é necessário estar consumindo mais calorias que o necessário, ou seja, estar em superávit calórico, e que todos os macronutrientes estejam ajustados. Estarem ajustados não quer dizer que quanto mais, melhor. A quantidade de proteínas não deve ser exagerada e sim na medida correta. Já o carboidrato, diferente do que pensam, é um macronutriente extremamente importante no ganho de massa magra. Escolher carboidratos de qualidade e na quantidade correta é essencial. Não é ele que dificulta o ganho de massa quando consumido de forma consciente e equilibrada e sim o excesso de ultraprocessados e o treino executado de forma errada.