*Por Eduardo Netto, diretor técnico da Bodytech Company
Até pouco tempo, era difícil encontrar corredores de longa distância nas salas de musculação. Historicamente, esses atletas evitavam exercícios de força. A preocupação sempre foi com os possíveis efeitos negativos decorrentes de um aumento da massa muscular (hipertrofia), trazendo como consequência, problemas no seu desempenho.
Naquela época, os métodos para melhoria de performance consistiam exclusivamente da melhoria de condicionamento cardiovascular. Os treinamentos, invariavelmente, recaíam em treinos de longa distância a uma velocidade moderada ou distâncias curtas com altas velocidades e, claro, uma combinação desses dois tipos de estímulos.
Pensava-se que os determinantes do desempenho seriam o VO2 máximo (maior taxa que o corpo pode usar e absorver de oxigênio, considerado, por isso, um dos principais indicadores de desempenho de um corredor) e o limiar de lactato (máximo de esforço ou velocidade em que se produz um nível constante de lactato no sangue).
Qualquer aumento acima deste nível, tanto em velocidade ou esforço, causa um aumento contínuo do lactato ou ácido lático, o que pode eventualmente causar o encerramento da atividade.
Porém, novas evidências científicas indicam que um programa que envolva exercícios de força e de potência pode ser importante para melhorar o desempenho nas corridas. E esses treinamentos parecem não estar relacionados apenas a uma melhoria no consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) e ao limiar de lactato, mas sim ao que denomina economia de corrida.
Ela determina o quão rápido você pode correr a um terminado nível de consumo de oxigênio. Como a quantidade que você consegue suportar durante uma corrida é determinada pelo limiar de lactato, sua economia de corrida implica em uma maior velocidade. Isso significa que uma determinada velocidade, você utilizará um menor percentual de oxigênio. Como exemplo, poderíamos afirmar que uma melhoria de 5% na economia de corrida se traduz em uma elevação de 5% na velocidade do corredor, o que representa uma melhoria de 12 minutos, o que pode determinar a busca pela medalha de ouro.
Hoje a musculação é usada em praticamente todas as modalidades esportivas, seja na busca por melhores resultados ou na prevenção de lesões. Para qualquer pessoa, da adolescência à terceira idade, de qualquer sexo, músculos mais fortes e resistentes significam melhor qualidade de vida.
Baseado em pesquisa de importantes organizações, como a National Strength Condition Association (NSCA) e American College Sport Medicine (ACSM), os principais benefícios do treinamento de força são:
1) Aumento da força muscular, potência e resistência muscular;
2 ) Diminuição dos riscos da ocorrência de lesões durante a prática de atividades esportivas;
3) Aumento da capacidade no desempenho esportivo.
Portanto, caso você seja praticante de corrida ou até mesmo um atleta, essas novas diretrizes apontam cada vez mais para a oportunidade de você se beneficiar da musculação como complemento de seus treinos. Além da melhoria do desempenho, ela poderá contribuir na correção dos desequilíbrios musculares e, principalmente, prevenir lesões.
Por que, então, um treino básico de musculação pode melhorar a economia de corrida? Como isso acontece? O aumento da economia de corrida após a participação em um programa de treinamento de força acontece por que esse tipo de prática ocasiona adaptação no sistema neuromuscular. Ela proporciona ao corredor a capacidade de fazer uma corrida com um nível de desgaste fisiológico bem menor quando comparado aos corredores que não fazem treinos de força. Por causa de treinamentos de força, os corredores passam a necessitar de menos oxigênio para executar seus treinos em virtude de produzirem mais força muscular e de diminuírem o tempo de contato do pé com solo durante as passadas da corrida.