*Por Gustavo Asmar, ortopedista, com a colaboração de Gustavo Monnerat, fisiologista
O número de praticantes de atividade física de alta performance tem crescido muito, e com ele, a necessidade de tratamentos que permitam uma recuperação mais rápida.
Atividades esportivas podem levar a microlesões musculares. Essas pequenas lesões são fundamentais para promover benefícios à saúde e ganhos de performance. Por isso é tão importante realizar intervalos de descanso entre as sessões de treinamento.
Entretanto, exercícios muito intensos podem promover grandes respostas inflamatórias locais e sistêmicas. Além disso, alguns esportes, como lutas, podem gerar respostas inflamatórias maiores, devido a pequenos traumas. No entanto, muitas vezes os cronogramas de competições intensos impedem que o indivíduo faça o repouso necessário para regeneração/recuperação muscular.
Neste cenário, alguns profissionais usam estratégias para acelerar o processo de recuperação através da imersão em água gelada — a crioterapia (gelo). Estudos mostram grande melhora do processo inflamatório com uso desta técnica, diminuindo bastante os edemas e a dor. Apesar disso, há uma divergência na literatura científica, relatando resultados negativos dessa estratégia.
Os efeitos adversos, evidenciados em alguns estudos, são a redução da síntese de mediadores anabólicos como o IGFBP-3 e o IGF-1 que ocorre após a realização da atividade física e aumento da produção de mediadores catabólicos (IGFBP-1). Mas como isso impacta a vida de um atleta? Este processo pode diminuir os resultados a longo prazo, de modo que muitos fisiologistas têm defendido seu uso apenas nas lesões traumáticas ou associadas com outras medidas ativas de recovery e massagens, que mostraram uma menor alteração desta produção hormonal quando comparadas com a crioterapia associada com repouso completo.
Além disso, existem diferentes protocolos onde a temperatura da água pode variar, assim como a duração do estímulo. Ainda, algumas pesquisas usam a água quente após a sessão de água gelada. Por isso, estratégias para acelerar a recuperação muscular são interessantes, porém, devem ser otimizadas para não comprometer as adaptações essenciais induzidas pelo exercício.
Concluímos que não existe verdade absoluta na medicina, e o atendimento de atletas amadores ou de alta performance, deve ser sempre individualizado e baseado em evidências. Quando seguem a moda ou tendências, o resultado pode ser desastroso no curto ou longo prazo.