O câncer de mama ainda é assunto que gera muitas dúvidas entre as mulheres. Quando fazer o primeiro exame? Qual a idade ideal? O tratamento causa infertilidade? Para tirar essas e outras dúvidas, ouvimos a com a epidemiologista Liz Maria Almeida, do Instituto Nacional do Câncer, e com o ginecologista Georges Fassolas, da Clínica Vivitá. Fique sempre informada e alerta com seu corpo, mulher.
Blog BT: Segundo pesquisa do IBOPE, 77% das mulheres acham que o autoexame é capaz de substituir a mamografia para detectar um caroço no seio. Isso é verdade?
Liz Maria Almeida: o autoexame era uma técnica indicada para ser feita uma vez ao mês e foi comprovado, após inúmeros casos, que não era uma estratégia eficaz. Esse procedimento feito em casa na frente do espelho foi substituído por uma orientação mais abrangente de autocuidado diário. O ideal é que a pessoa esteja sempre se olhando e prestando bastante atenção ao próprio corpo. Vai se vestir para trabalhar ou tomar banho? Fique de olho nos sinais que o seu corpo pode dar.
Blog BT: O câncer de mama é apenas identificado como um nódulo no seio ou existem outras maneiras da doença se manifestar?
Georges Fassolas: Existem outras maneiras da doença se manifestar. O nódulo é a forma mais comum, mas, às vezes, a gente consegue detectar a doença através de vermelhidão na mama e saída de secreção pelo mamilo, principalmente quando essa secreção é sanguinolenta ou transparente.
Blog BT: Independente de fatores genéticos, qual a idade apropriada para começar a fazer exames na mama? É só a partir dos 40 anos para qualquer situação?
Liz Maria Almeida: A mamografia é um tipo de raio-x e qualquer procedimento feito com radiação é um fator de risco para o aumento da incidência de câncer. A questão é se perguntar quando um exame tem mais malefícios do que benefícios?. É por isso que diversos sistemas de saúde ao redor do mundo, aconselham que a mamografia só seja realizada após a menopausa ou numa faixa de idade entre 50 e 69 anos, a cada dois anos. Antes da menopausa, a mama é mais densa e um nódulo acaba sendo visto como um grão de arroz, mas, após esse período, o tecido granular mamário se torna tecido adiposo e a margem de erro para identificação de algum tumor é mínimo, pois a mama fica translúcida. Se o exame é feito precocemente e a paciente está fora do mapeamento de risco, ela é exposta à radiação sem necessidade e ainda pode estar suscetível ao surgimento de um câncer. Dados indicam que 56 em cada 100 mil mulheres terão câncer de mama por ano e não queremos aumentar esse número.
Leia também:
Outubro Rosa: uma história de superação para te inspirar
Outubro Rosa: exercício é fundamental na luta contra o câncer
Blog BT: Sedentarismo, maus hábitos alimentares, ingestão de álcool, tabaco e fatores reprodutivos (ciclo precoce, menopausa tardia, não amamentação) causam câncer de mama para além da hereditariedade e da genética? Se sim, como isso acontece no corpo?
Georges Fassolas: Todos esses são fatores de risco para o câncer de mama. Mulheres que não amamentaram durante a vida ou que têm o primeiro ciclo menstrual precocemente, obesas ou que fumam têm mais chances de desenvolver câncer de mama. No caso desses fatores, chamados reprodutivos e da obesidade, há um aumento da secreção estrogênica e esse hormônio pode ser um promotor de câncer de mama. No caso do tabagismo, ele pode levar a alterações da genética das células da mama, o que levaria a um descontrole da divisão dessas células, causando a doença.
Blog BT: Quais as formas de prevenção e, se caso houver a descoberta de um nódulo no seio, quais as primeiras medidas devem ser tomadas pela paciente?
Georges Fassolas: Quando a pessoa sente um nódulo no seio, a primeira coisa a se fazer é ir ao médico, pois o especialista vai fazer os exames necessários. Isso é uma medida urgente a ser tomada. Quanto às formas de prevenção, é indicado ter uma vida mais saudável em termos alimentares, não ser obeso, não fumar e sempre ser acompanhado pelo seu médico.
Blog BT: Os tratamentos contra o câncer podem causar infertilidade? Como é possível preservá-la e qual o tempo ideal para engravidar?
Georges Fassolas: A fertilidade pode ser afetada quando é necessária a retirada dos ovários, em função do câncer, ou através de tratamentos agressivos, como a quimioterapia. A mulher já nasce com o número de óvulos estabelecidos. A quimioterapia, basicamente, age em qualquer célula que se multiplica com maior frequência, como as células reprodutoras que integram o ovário, o que prejudica a quantidade de óvulos. O tratamento mais realizado é o congelamento dos óvulos. A paciente é submetida a uma indução da ovulação de forma segura. Os óvulos são coletados em uma cirurgia, 10 a 12 dias depois da indução. Após isso, são congelados e armazenados para a posterior fertilização in vitro. Embora alguns médicos defendam que é indicado esperar, no mínimo, um ano após o tratamento, a decisão precisa ser discutida caso a caso, dependendo do tipo de câncer. Cabe ao especialista analisar e decidir junto com a paciente qual é o melhor momento.