Venho percebendo, desde que voltei da Índia, que a procura pela prática de yoga está aumentando. Apesar disso, observo também que muitas pessoas acabam focando apenas nas asanas (posturas) e não no yoga como um todo. Por isso, resolvi escrever um pouco mais sobre essa filosofia milenar que vem conquistando o mundo.
Na Índia, cada sistema filosófico está baseado em uma obra fundamental, que dá os princípios gerais e delineia sua estrutura lógica. Dentre esses sistemas filosóficos indianos, o yoga é, talvez, o mais difundido no mundo.
“Sutras do Yoga”, de autoria atribuída a um sábio de nome Patanjali, é uma obra fundamental sobre a filosofia do Yoga. O principal mérito dos Sutras do Yoga foi o de estabelecer um código regulador da prática, baseado em preceitos éticos e em uma delimitação sistemática dos conceitos teóricos envolvidos.
Os Sutras chamam atenção para uma coisa muito importante: o Yoga é uma disciplina que trabalha principalmente com a mente. O corpo é apenas uma ferramenta adicional para o correto desempenho prático.
A prática de Yoga tem como regra esses cinco preceitos:
- Praticar a não violência (ahimsa)
- Firmar compromisso com a verdade (satya)
- Não roubar (asteya)
- Viver uma vida devota ao estudo e à espiritualidade (brahmacarya)
- Livrar-se da cobiça (aparigraha)
Sem esses preceitos, a prática vira somente um exercício físico.
E além disso, Patanjali apresenta também, um conjunto de práticas envolvidas no caminho para o Samadhi (quietude da mente), chamado de Kriya Yoga (O ajustamento da ação).
O Kriya Yoga é descrito como a combinação de sacrifício (tapas), busca do saber interior (svadhyaya) e entrega ao Senhor (isvarapranidhana).
Longe do sentido negativo que tinge a palavra “sacrifício” entre os ocidentais, “tapas” é o conjunto de práticas que reorientam a atenção do praticante de Yoga para uma vida pautada pelo desapego e exercício da sua própria natureza. O ‘tapas” afasta-nos de tudo que não é condizente com a nossa vida ideal. A busca do saber interior, que é como um estudo de si mesmo, revela-se pelo surgimento do conhecimento intuitivo e pela manifestação dos sinais do Samadhi. E a entrega ao Senhor interno é a entrega do comando intuitivo da nossa responsabilidade.
“Tapas” é uma palavra originada do verbo “tap”, que significa “queimar”. Tem ao mesmo tempo o sentido de purificação pelo fogo e do sofrimento causado pela queimadura.
É mesmo doloroso, em certa medida, lutar com as resistências naturais que alimentamos contra mudanças muito grandes. Na prática, tapas é quando o praticante permanece na postura por muito tempo, e com isso naturalmente a intenção e o sentimento gerado por ela, vão gradativamente se manifestar. E assim através das posturas podemos desvelar cada uma das dimensões do nosso ser.
As posturas servem como ferramentas ou veículos que nos levam nessa jornada.Sendo assim, o Yoga promove o reajuste das atividades da mente e seu objetivo é ajustar o praticante à sua própria natureza, dando autenticidade e coerência. Devemos ter uma sincera disposição à disciplina do pensamento e do comportamento para alcançarmos tudo isso.