A dependência emocional costuma ter sinais claros, mas quem está no meio do redemoinho nem sempre consegue enxergá-los. Controle, possessividade e ciúmes extremos são indicadores dessa dependência que, na maioria das vezes, acomete relacionamentos conjugais, mas também pode acontecer entre amigos e familiares. Aquele amigo que quer uma atenção integral ou uma mãe que acredita que precisa dar atenção 100% a um único filho são exemplos. Para entendermos melhor as causas e os impactos dessa dependência afetiva, conversamos com a Marina Vasconcellos, psicóloga e especialista em Psicodrama Terapêutico pela Federação Brasileira de Psicodrama (FEBRAP), e com a Blenda de Oliveira, psicanalista formada pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).

Afinal, o que é?

Segundo Marina Vasconcellos, a dependência emocional é a dependência afetiva que uma pessoa desenvolve em relações interpessoais, que pode ser tanto amorosa, quanto familiar ou de amizade. O indivíduo não consegue sentir-se bem sem aquela pessoa ao lado, depositando nela a carga de preencher um vazio enorme interno, buscando completude de seu ser. “É importante saber que toda dependência afetiva é mútua, há uma dependência correlata. Dificilmente tem uma parte só que é dependente. Ambos de alguma forma usufruem daquela dependência”, explica a psicanalista Blenda de Oliveira.  

Ainda de acordo com a especialista, outro ponto da dependência afetiva é olhar para como as pessoas se patrocinam para manter esse elo. Qualquer dependência costuma entrelaçar quatro esquemas, são eles: a imaturidade emocional, a ilusão de permanência, a baixa tolerância à frustração e a baixa tolerância ao sofrimento.

Causas e como perceber o problema

Como o próprio nome descreve, a dependência impossibilita a pessoa de se desenvolver de forma autônoma, de olhar para as suas questões, deixando-a presa a alguém como se esse alguém fosse sua tábua de salvação. Sem isso, a pessoa está incompleta, frágil, tem medo de encarar as coisas, medo de errar e arriscar. Precisa do outro para qualquer tomada de decisão ou mesmo para viver seu dia a dia, deixando de focar em si para se preocupar apenas com o outro. Ela faz de tudo pelo outro para reforçar a dependência e a necessidade de estar por perto.

“A pessoa dependente pode ser controladora, possessiva e ciumenta, querendo tomar conta da vida do outro e monitorar o tempo todo. Tem dificuldade em dizer “não” por medo de ser rejeitada e perder o outro. Por fim, é incapaz de fazer qualquer plano sem a presença do outro em sua vida”, esclarece a especialista Marina. 

De acordo com Blenda de Oliveira, existem alguns pontos importantes de quando há a dependência emocional e que acabam se perdendo de vista: a ideia de que o amor não acaba nunca e portanto é infinito, a não aceitação de qualquer possibilidade de ruptura, a ilusão de segurança afetiva permanente enquanto estiver com determinada pessoa e a perda da noção de que existe um indivíduo e outro. Perceber essa situação não é fácil. Porém, quando você se vê completamente frágil e incapaz de levar a vida sem alguém ao lado, não tem individualidade nem autonomia para realizar suas coisas e tem medo de enfrentar a vida sozinho, fique atento, pois pode existir um problema.

O que envolve a prevenção da dependência 

Na visão da psicóloga Marina Vasconcellos, a prevenção vem desde a infância, com os pais incentivando a autonomia da criança e reforçando sua capacidade de enfrentar os problemas. “Dar uma boa base de apego seguro desde o nascimento do filho também é de extrema importância, quando os pais (e em especial a mãe) demonstram o amor e acolhem o filho em suas necessidades emocionais e físicas, proporcionando que ele cresça num ambiente seguro, saudável e funcional”, aponta. Isso se explica porque o olhar de reconhecimento e admiração dos pais para os filhos ajuda a construir uma autoestima positiva e forte, para que a pessoa cresça confiando em si e acreditando em seu potencial, não dependendo de uma pessoa ao lado para sentir-se segura ou completa. 

“A maior prevenção para que não haja a dependência emocional afetiva é que a pessoa tenha uma condição de independência, de autonomia psíquica (autonomia pessoal). Ter a consciência de que ela consegue ter outras coisas na vida que lhe dão prazer e tragam sentimento de realização, de que não é só somente aquele companheiro ou companheira que trará a satisfação total. É importante entender que o outro é importante em sua vida, mas desde que haja uma relação de parceria, companheirismo e compartilhamento”, diz Vasconcellos. 

Como a terapia pode ajudar

É fundamental buscar ajuda profissional, pois a dependência emocional causa muito sofrimento e restrição pessoal, diminuindo a autonomia e a capacidade da pessoa querer explorar novas possibilidades. De acordo com Vasconcellos, para construir uma boa autoestima, caso ela não tenha sido formada desde a infância, uma das melhores formas é buscar ajuda profissional de um psicólogo, que o ajudará nesse trabalho de investigação das causas que o levaram a essa dinâmica de funcionamento, assim como facilitará o acesso ao potencial curativo de cada um. 

É importante ter consciência do problema e estar disposto a descobrir um novo modo de vida.  “Outra forma – caso a pessoa não tenha acesso a esse tratamento – é olhar para si, buscar quais são seus interesses, procurar atividades que lhe deem prazer e alimentem a autoestima, aumentar o círculo de amizades e conviver com pessoas além daquela que lhe causa a dependência. É preciso desenvolver a capacidade de cuidar de si, valorizar-se e deixar de focar a vida no outro para se livrar da dependência”, aconselha a psicóloga.