Todos nós sabemos que o esporte está associado a um estilo de vida saudável e que são múltiplos os seus benefícios, não só a nível físico, mas também a nível cognitivo, emocional e social. Tem crescido o número de estudos científicos que comprovam os efeitos positivos da atividade física para crianças e adolescentes, concretamente os cognitivos e emocionais. Sabia que a prática de exercício físico permite potenciar o crescimento celular no cérebro e de neurotransmissores associados ao humor? Que ela pode reduzir o stress e aliviar a tensão muscular, melhorar a qualidade de sono e, consequentemente, contribuir para uma sensação generalizada de bem-estar? Várias pesquisas mostram isso e nós vamos falar um pouco sobre elas.
Desempenho cognitivo
Pesquisas realizadas com jovens de 12 a 21 anos mostraram que o grupo que pratica atividade física apresentara melhores resultados escolares comparativamente àqueles que nunca praticaram nada. Em Portugal, uma investigação da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa estudou três mil alunos ao longo de cinco anos e concluiu que os estudantes que fazem exercício físico têm melhor desempenho escolar. Especificamente para crianças com perturbação de hiperatividade com déficit de atenção (PHDA) em idade escolar, estudos concluíram que os sintomas diminuíram com 26 minutos contínuos de atividade física diária, moderada a vigorosa, durante oito semanas. Num outro estudo com crianças com PHDA, os alunos melhoraram na matemática e na leitura.
O exercício físico parece aumentar o foco mental e o controle executivo, que consiste na resistência à distração e manutenção do foco, bem como a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva. Isso significa que contribui para que as crianças sejam menos impulsivas e mais focadas, o que as torna mais preparadas para aprender.
Saúde mental
Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Universidade de Vermont mostrou que as crianças que praticam desporto têm menos problemas emocionais e comportamentais e são menos propensas a consumir drogas ou ter uma imagem corporal negativa. Já na Austrália, com uma amostra de mais de oito mil crianças e adolescentes, pesquisadores concluíram que a taxa de sintomas depressivos era menor quando havia maiores oportunidades para se envolverem em um esporte. Níveis mais baixos de uso de tecnologia também foram associados a menos sintomas depressivos. Um estudo recente da Public Health Wales e Bangor University concluiu que as crianças que tiveram experiências adversas na infância (negligência ou abusos) e praticavam exercício tinham menos probabilidade de ter uma doença mental na vida adulta.
Competências sociais
Conhecimento e respeito pelas regras, disciplina, responsabilidade e rotina são algumas competências que a prática desportiva promove. Adicionalmente, as crianças e adolescentes desenvolvem competências sociais, tornando-se independentes, mas não influenciáveis. Nos esportes coletivos, compartilham interesses e objetivos, aprendem a importância da colaboração e a valorizar as relações interpessoais. Além disso, aprendem a lidar com a frustração, gerir conflitos e a conviver melhor em grupo.
De um tempo para cá, estou me dedicando a um estudo com crianças e jovens de 11 a 21 anos, que por algum motivo na infância, em casa ou na escola, presenciaram situações que geraram transtornos psicológicos – e que em alguns casos, desenvolveram dependência química. Ao lado de psiquiatras, psicólogos e psicanalistas, investigo a neurociência cognitiva e a importância da atividade no tratamento. Sendo assim, vejo falha na maioria das escolas sobre como inserir e planejar a educação física escolar na rotina do aluno. Para conseguirmos diminuir os casos dos transtornos, precisamos repensar e conversar sobre novas formas de encarar a atividade física na formação do indivíduo.