Adotar o vegetarianismo ou veganismo vai muito além de uma preferência alimentar. Quem opta por uma dieta que exclui 100% os alimentos de origem animal escolhe um estilo de vida norteado pela consciência ambiental e pela preocupação com o coletivo.

É natural que os pais que seguem a alimentação vegetariana ou simpatizam com a causa queiram reproduzir esse ideal na introdução alimentar dos seus filhos, e com isso, algumas dúvidas podem surgir. Para ajudar a esclarecer algumas questões sobre o tema, conversamos com a Luna Azevedo, nutricionista especializada em alimentação vegetariana e vegana.

Para além de uma crença popular de que é possível ser vegetariano sem comprometer a saúde, Luna informa que de acordo com a ADA (American Dietetic Association), a alimentação vegetariana é compatível com todas as fases da vida. A nutricionista reforça que com exceção da Vitamina B12, que deve ser suplementada, é possível obter todo o restante dos nutrientes apenas através da alimentação.  

Dessa forma, uma criança pode ter uma alimentação inteiramente vegana sem problemas. Para Luna, a resistência de algumas pessoas em relação ao vegetarianismo ultrapassa uma verdadeira preocupação com valores nutricionais, e é na verdade um fator cultural que dita os nossos hábitos alimentares.

“As pessoas não estão acostumadas a comer vegetais e a desenvolver o paladar. Existe uma cultura muito grande do consumo de industrializados.”

Não há tanta diferença entre a alimentação vegetariana para um adulto ou para uma criança. A base das refeições deve ser sempre uma combinação de vegetais, frutas, cereais e leguminosas. O famoso “arroz com feijão” é muito bem-vindo, e de preferência, deve ser combinado com muitos vegetais verde escuros, que são fontes de cálcio e ferro.

Absorção de ferro e suplementação de vitaminas

Existem dois tipos de ferro: heme e o não heme. O primeiro é encontrado principalmente na carne vermelha, peixes, aves e ovos. Essa é a forma mais conhecida, e por isso, muitas pessoas associam erroneamente o vegetarianismo a uma carência desse nutriente, mas isso não passa de um mito. Luna explica que para as pessoas veggies a alternativa é consumir o ferro não heme, que está presente em verduras (principalmente as de folhas escuras, como brócolis, couve, espinafre, salsa, etc), leguminosas (lentilha, grão de bico, feijão, etc) e frutas.

A diferença entre as formas do ferro está na sua biodisponibilidade, que é a capacidade do organismo de absorver e utilizar o ferro. Segundo um estudo científico apontado pela Sociedade Vegetariana Brasileira, crianças vegetarianas ingerem maior quantidade de ferro, porém em sua forma não heme, menos absorvível. Por isso, é preciso aderir práticas alimentares que ajudem o organismo a fazer uma melhor absorção desse ferro que está sendo ingerido. Uma dica é acrescentar fontes alimentares de vitamina C nas refeições principais.

Ainda assim, existe uma recomendação da Organização Mundial da saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria para que crianças, vegetarianas ou não, comecem a fazer uma suplementação de ferro aos três meses de vida.

Luna sempre ressalta a importância de qualquer pessoa vegetariana fazer uma suplementação de vitamina B12. Essa recomendação é ainda mais importante quando as mamães veggies estiverem amamentando. Dessa forma, o bebê será nutrido com essa vitamina através do leite materno. Aos seis meses, já no processo de introdução alimentar, o bebê já pode começar a suplementação de vitamina B12 junto com as refeições.

Se a mãe tiver algum problema em amamentar, existem algumas fórmulas veganas feitas de proteína do arroz que fornecem B12 e que podem ser dadas ao bebê.

“É preciso desmistificar muita coisa sobre alimentação. Existe uma cultura forte de incentivo a pecuária. Acredito que seja uma estratégia para absorver uma demanda econômica, mas do ponto de vista nutricional e de saúde, não existe nada que impeça que as pessoas sejam vegetarianas e saudáveis”

O importante, independente de ser vegetariano ou não, é fazer exames de sangue regularmente e acompanhar os nutrientes no organismo, para identificar faltas e excessos. Seguindo uma alimentação consciente, saudável e equilibrada, o vegetarianismo e veganismo são possíveis para todas as idades. Quer saber mais sobre o assunto? Confira também se vegetarianos têm mais dificuldade de ganhar massa magra.

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