Em poucos anos, a discussão sobre a depressão e outros transtornos mentais ganhou força e destaque em rodas de conversa, na mídia e no próprio ambiente familiar. Lais Moreira, psiquiatra do Hospital São Luís, em São Paulo, explica que a razão disso é uma combinação do aparecimento de novos casos — por conta do estilo de vida corrido da população — com a redução do estigma e preconceito em relação a doenças psiquiátricas. A importância de debater o assunto com seriedade é grande. A partir da disseminação de um conhecimento seguro, pessoas conseguem fazer a identificação dos sintomas e procurar ajuda.
Lais explica que a depressão é uma síndrome que provoca uma verdadeira mudança no humor e no estado mental. Esse transtorno carrega um componente genético, mas não é um determinante para que a pessoa desenvolva ou não a doença. A razão do aparecimento do transtorno pode ser multifatorial, de ordem biológica, ambiental ou psicológica. Biologicamente falando, a doença altera os neurotransmissores, principalmente a noradrenalina e a serotonina, conhecidos como os hormônios da felicidade ou do bem-estar.
Com essas alterações, a pessoa passa a apresentar sintomas como: tristeza, irritabilidade, alteração no apetite (tanto a falta dele quanto o aumento da fome), cansaço frequente e sem motivo aparente, baixa autoestima, dificuldade de concentração e ainda pensamentos de inutilidade, culpa, perda de esperança, angústia e até intenções suicidas.
Existem alguns grupos que devem receber uma atenção redobrada: adolescentes e idosos. No primeiro grupo, é comum que os pais tenham uma dificuldade em enxergar a doença já que em plena fase de crescimento e cheios de energia, os jovens passam pela depressão de uma forma diferente. Ao invés de externalizar uma tristeza e melancolia, eles continuam com suas atividades, mas vivem com uma confusão mental muito grande. Já os idosos podem se “conformar” com a doença e não expressar seus sentimentos, por já não terem mais tanta perspectiva.
“A depressão está muito associada ao estresse, que pode ‘cegar’ a pessoa. Às vezes o paciente chega ao meu consultório e eu pergunto: ‘o que você gosta de fazer?’ e ele não sabe responder. É importante a gente se conhecer, se cuidar, comer bem, dormir bem, ter o nosso tempo… A gente vai esquecendo de si mesmo.”
O tratamento da doença depende do grau que ele está, ou seja, se os sintomas são mais leves, moderados ou graves. Em uma depressão mais leve, é possível tratar a doença apenas com terapia. Já quando os sintomas estão mais avançados, além da terapia, um profissional poderá determinar o melhor medicamento para regular os neurotransmissores. Para a médica, a intenção é sempre retirar a medicação, que é importante em um momento emergencial. A duração do tratamento varia de pessoa para pessoa, mas é bom ter em mente que a cura não acontece da noite para o dia. É um processo. A depressão pode ser totalmente revertida, mas algumas pessoas podem apresentar outros episódios e ter que voltar a fazer o tratamento. Quanto mais recorrências do transtorno, maior é a chance de voltar a ter depressão.
Ainda segundo a especialista, o paciente precisa procurar qualquer atividade que o faça se sentir bem e que complemente o tratamento clínico, como práticas integrativas, meditação, arteterapia, etc. Outra prática que pode beneficiar uma pessoa que se encontra em um quadro de depressão é a atividade física.
“A atividade física é fundamental. O curso da doença é totalmente diferente em quem se exercita e em quem não. O acúmulo da energia pode sim se manifestar em sintomas físicos.”
Uma medida essencial no tratamento da depressão é “desencadear o desencadeante”, ou seja, o paciente deve procurar atenuar aquilo que agrava o transtorno, evitando o que o faz mal. Se o ambiente de trabalho é um grande incômodo e não é possível mudar de emprego, é fundamental que o paciente invista ainda mais no seu lazer, mantendo contato com pessoas que gosta e admira, diversificando os interesses e experimentando novas atividades, por exemplo. Dessa forma, sua vida pessoal vai tomar uma importância maior em relação ao lado profissional, o que ajuda a afastar pensamentos inconvenientes.
Para quem não sofre de depressão, mas convive com alguém que recebeu o diagnóstico, a psiquiatra também tem um conselho:o primeiro passo é entender o que está acontecendo. É muito comum as pessoas associarem a depressão à frescura ou preguiça, mas a depressão é uma doença que apresenta um componente químico alterado. Por isso, apoiar e deixar os julgamentos de lado são a melhor forma de ajudar. A pessoa depressiva tem uma tendência a se isolar e os amigos e familiares devem acatar sua vontade e não “forçar a barra”. O processo de se conectar com o mundo deve acontecer de uma forma natural. O caminho é o meio termo entre se mostrar disponível e respeitar o espaço da pessoa.
Algumas formas de prestar suporte são:
- Evite fazer comparações de um caso depressivo com outro.
- Esqueça comentários como “eu também já estive triste, isso passa.” A depressão vai além da tristeza, e estar infeliz não é uma escolha do paciente.
- Coloque-se sempre disponível para conversar ou só escutar.
- Tenha empatia. Antes de falar pense no que você gostaria de ouvir.
Apesar do tratamento ser um processo delicado, vencer a depressão é possível. Se você se identificou com os sintomas descritos na matéria, procure ajuda de um especialista ou se lembrou de alguém que aparenta estar nessa situação, ofereça apoio e compartilhe essas informações.