*Por Marta Mitsui Izo, instrutora Acqua Bodytech
You did it! Foi o que disse a Manuela (a caiaqueira que me acompanhou em todos os 193 km, por 7 dias no Rio Hudson) quando cruzei a Verrazano Bridge (8ª e última ponte do desafio das 8 Bridges). Quanta alegria! Mais um desafio realizado!
Foram quase 6 meses de preparação “específica”, 23 semanas, mais de 900.000km nadados e alguns quilos eliminados. Mas lembrando que venho treinando desde o ano passado (na verdade, nunca parei, só diminuí o volume algumas vezes).
Dizem que sou louca, mas quem é mais: quem convida ou quem aceita o convite? Pois é, não fui sozinha! Tive a companhia de mais dois loucos nessa Odisséia: Flavio Toi e Harry Finger. A prova foi do dia 15 a 22 de junho, com um dia de descanso no meio (19 de junho). Chegamos a Nova York e fomos direto para o 1º hotel em Poughkeepsie, ao norte (quase 2h de estrada), cidade linda e calma, do jeito que eu gosto!
No dia seguinte, fizemos o reconhecimento das duas primeiras pontes. Nossa! Deu frio na barriga! Ficamos cara a cara com o Rio Hudson! Ansiedade grande, aquela de não saber o que está por vir! Jantamos, preparamos as coisas e fomos dormir cedo.
15/06 – 1º trecho: 18,3 milhas/29,3km – 5h28min
Acordamos às 4h da manhã. O grande dia havia chegado! Arrepiei e o coração disparou! Somente nesse dia conheci a caiaqueira Manuela Jessel, moça muito simpática. Ainda bem, pois seria a responsável por minha segurança na água por todos os trechos. Entreguei as coisas e passei como seria minha hidratação (a cada 30 minutos).
Embarcamos no Launch 5, barco responsável pela nossa segurança. Além dele, teve mais dois barcos rápidos e dois jet skis. Fomos para a largada, embaixo da 1ª ponte Rip Van Winkle, entramos na água e, após alguns segundos, David Barra (um dos organizadores) deu a largada.
Foi uma mistura de sensações e pensamentos. A água estava uns 20/21ºC e sem sol. Isso não anima muito, mas ok. Estava iniciando mais uma jornada, bem longa por sinal, sem saber o que estava por vir. A corrente estava ajudando, mas o vento resolveu marcar presença o tempo todo! OMG! Me senti dentro de uma máquina de lavar roupas! Era onda batendo de frente o tempo todo! Engoli um monte de água (faz parte, né?). Depois de apanhar por muito tempo (horas, na verdade), Manuela me fala: “temos uma vista, a ponte!”. Como fiquei feliz! Mas ainda foi mais 1h e alguns minutos para chegar.
Quando passei por baixo, e sinalizaram o final, dei Graças à Deus! Nossa, como foi assustador esse trecho. Estava esperando uma coisa menos difícil e logo de cara, me deparei com isso! Subi no Launch 5. Fiquei surpresa quando fui informada do tempo, 5h28! Aí percebi o quanto a corrente ajudou, apesar do vento. Sofrido mas feliz! Preocupada também, porque o 2º trecho seria mais longo e mais difícil. Trecho concluído! Dolorida, mas muito feliz!
16/06 – 2º trecho: 19,8 milhas/32km – 6h30min
Trecho mais longo e largada mais cedo. Embarcamos no Launch 5, que nos levou para a ponte onde terminamos. Ah, temos um ritual de besuntar! Usamos uma mistura de lanolina e vaselina para proteger do frio e atrito. Uso mais por causa do atrito, mas passo na região dos rins (nosso termômetro). Entramos na água (acho que estava mais fria, de novo sem sol, mas pelo menos sem vento). Largada foi dada e fomos rumo à próxima ponte. Dia bem diferente do anterior — deu até para a Manuela tirar fotos e filmar.
Depois de algumas horas, a ponte é avistada! Nesse trecho, antes da ponte (uns 700/800m) tem uma passarela que engana os desavisados. Caraca! Um pouco antes de chegar na passarela, a corrente começou a empurrar mais forte para trás. Tive que fazer força! Dava 80 braçadas e olhava, mais 80 e olhava! Parecia que a ponte continuava do mesmo tamanho! Até bati perna para sair mais do lugar! Finalmente cruzei! Manuela sinalizou o final! Ufa! Mais um trecho difícil! Mais uma surpresa: esse trecho foi de 19,8 milhas (32 km), e fiz em 6h30! Não sei de onde tirei forças para o final, pois havia falado para a Manuela que já estava com os braços cansados 1h30 antes.
17/06 – 3º trecho: 13,2 milhas/21,2km – 4h20min
Largada mais tarde, deu até para tomar café da manhã do hotel. O legal dessas provas são as pessoas que conhecemos! Todos na mesma sofrência e com dores musculares! Mesma vibração e objetivos! Uma dessas é Abigail. Nada muito! Nos dois primeiros trechos ela chegou na minha frente. Nesse, ela disse que iria devagar e combinamos de ir junto. Quando entramos na água, tudo gelou! Estava mais fria que outros dias! Acredito que entre 17/18ºC! Nadei o tempo todo gelada, mas sem tremer. Abi teve que colocar mais uma touca. Realmente tentei não me desgastar muito. Eu e Abi nadamos o tempo todo juntas. O vento deu trégua, e o sol não apareceu de novo. Chegamos juntas! Foi excelente!
18/06 – 4º trecho: 15,2 milhas/24,4 km – 5h13min
Largada mais tarde de novo. Café da manhã do hotel. Ventou o tempo todo – lembrou o 1º dia! Só deu uma trégua por uns 30min no máximo, quando passamos por West Point, depois disso só piorou! Havia combinado de ir com a Abi de novo, mas por causa do vento e a água mexida, me perdi dela. Água bem melhor (acho que uns 21/22ªC) e saiu sol! Finalmente! A corrente ajudou muito, principalmente nos trechos mais estreitos. Fiquei com dó da Manuela, a corrente me ajudava e o vento a empurrava para trás! Acho que nesse trecho, ela sofreu mais que eu. Me senti muito bem desde o início. Tentei não me desgastar muito. Já com a ponte à vista, fiz uma hidratação e perguntei a Manuela se faríamos mais uma e ela disse talvez, pois estávamos indo muito rápido. Quase perto, ela sinalizou para hidratar e eu disse que não, que iria direto, pois estava quase chegando. Foram mais uns 10 minutos. Mais uma ponte finalizada!
19/06 – OFF
Sem hora para acordar, tomar café da manhã tranquilo e mudar de hotel (em Tarrytown). No caminho, fizemos um reconhecimento de onde seria a chegada do 5º trecho. Passamos no mercado para completar o que faltava (principalmente água). Nos hospedamos, jantamos, arrumamos as coisas e fomos dormir cedo, pois o dia seguinte seria o trecho considerado o mas difícil.
20/06 – 5º trecho “The Beast”: 19,8 milhas/32 km – 7h47min
Às 2h30 o despertador tocou! Caraca! Chegou o dia mais temido! Esse trecho é conhecido como “The Beast”. Assusta, né? Pois é nele que muitos não conseguem completar e são recolhidos. Mas vamos lá! Saímos do hotel as 4h15 rumo à marina. Foram duas largadas, Harry na primeira e Toi e eu na segunda. Largamos às 6h. Sempre entramos na água por trás do barco, dessa vez saltamos pela frente! Muito legal! Largamos com corrente contra, mas não tinha noção de que seriam 4h!
Em uma das hidratações (com 4h de prova), falei para a Manuela que estava meio estranho nadar, foi aí que ela me disse que a corrente não havia mudado ainda! Noossaaa, mas pelo menos estava avançando, devagar, mas indo. Finalmente a corrente muda, Graças a Deus, pensei! Mas quem resolveu aparecer?! O vento! Pois é, e foi assim até o final. Vencemos a “The Beast”! Dediquei esse trecho ao querido Alezinho! Um jovem de apenas 19 anos, que adorava grandes emoções, aceitava qualquer desafio e que Deus quis levá-lo muito cedo (1 mês antes de eu viajar). Pensei nele em todo o percurso e tenho certeza que realmente deu todas as braçadas comigo! Muito feliz, mas sabendo que não poderia perder o foco, pois dois trechos ainda estavam por vir.
21/06 – 6º trecho: 15,7 milhas/25,2 km – 3h48min
Penúltimo trecho! Apesar de não ser mais curto, foi o mais rápido. O rio fica mais estreito, então a corrente ajuda bem! Realmente foi rápido, fiz em 3h48, lógico que na companhia do vento! A paisagem mudou, antes era só vegetação, trem, mais vegetação e assim foi. Agora começou a aparecer construções e prédios. A água começou a ficar um pouco salgada (antes era doce). Chegamos em Manhattan! Na George Washington Bridge! Nesse dia, tive a visita de Sara antes da largada e na chegada também! Foi muito bom! Amei! Após a prova, teve uma pequena confraternização na marina. David fez agradecimentos e parabenizou todos!
22/06 – 7º trecho: 18,1 milhas/30 km – 5h54min
Último dia de prova/desafio! Finalmente! Nesse trecho, o tráfego de barcos, lanchas e navios cargueiros é intenso, então, além do caiaque, cada atleta tinha um barco a motor para acompanhar, com um observer a bordo. Largamos contra de novo (por quase 2h), sempre beirando a margem.
Passamos por alguns lugares que fomos aplaudidos! Demais! Devem ter pensado: “Que bando de loucos!” Depois de quase 4h de braçadas, passei pela Estátua da Liberdade! Antes da largada, havia falado para o observer que estava no barco que precisava muito ter essa foto! Dito e feito! Foto tirada! Demais vê-la de um ponto de onde pouquíssimas pessoas tem o privilégio de ver! Isso sem falar da foto também!
Mas mantive o foco, pois ainda precisava passar pela ponte. Após a Estátua, tinha vários navios enormes, que tive que desviar, mas logo a Manuela me colocou de volta, em direção à ponte. Não estava acreditando que estava prestes a finalizar mais um desafio que foi planejado com carinho e treinado com muita determinação!
A ponte foi ficando cada vez maior. Quando finalmente passei por baixo dela e sinalizaram que havia terminado foi uma sensação inexplicável! Que jornada, que Odisséia, que desafio!
Sabia que ia ser difícil, mas confesso que foi mais do que imaginava! Sempre temos aquele pensamento: “Será que treinei o suficiente?”. Hoje posso falar que toda a preparação na água, cuidados de fisio, acupuntura, massagem, nutrição, médico, musculação e alongamentos foram bem feitos! Tenho muito a agradecer ao Igor (técnico), Fabi (acupuntura), Alan (nutrição), Dra Ana (médica do esporte), a equipe de fisio Daniel e Carol. Megafeliz e realizada!
Foram 7 dias, 8 pontes e 193km nadados! Total de 39h03min! E fiquei em 4º lugar no geral e 1º no feminino! Conheci pessoas maravilhosas, como Abi (Hudson sister, nada muito!), Ed (que ficou impressionado comigo, me chamava de Iron), Jamie e sua esposa Tina (bem estilo do Texas, ele já fez 10x a volta da Ilha de Manhattan! Uma em cada ano), Stephen (líder da Odisséia), Graco (mexicano figura!) Katrin (suíça ligada nos 220!), Steve ( super simpático), Liz (britânica responsável pelo blog), pessoal do Launch 5, Greg (capitão) e Roy (que ficávamos muito felizes de vê-lo, pois era o responsável de puxar a gente de volta para o barco, e vibrava a cada estágio completado!) Alex (responsável pela equipe de caiaqueiros e por Abigail), e os principais idealizadores dessa aventura David e Rondi, sempre muito preocupados com a segurança de cada um de nós! Lógico, não poderia deixar de falar de Manuela, que cuidou de mim por 7 dias, enfrentou ventos que estavam piores para ela do que para mim, me guiou, hidratou e incentivou! Foi perfeito! Com certeza, se eu resolver fazer uma prova em NY de novo, será ela que chamarei! Flavio Toi e Harry Finger, vcs são sensacionais! Ou melhor, agora são imortais! Passamos dias maravilhosos e sofridos juntos! Tudo perfeito! Estela e Tiago Toi, o apoio de vocês foi demais. Amei tudo! Retorno ao Brasil com excelentes impressões das provas daqui de NY! Superrecomendo! Thank you all!