*Por Rafael Duarte, da equipe Miramundos
Ficamos completamente exaustos, porém realizados com nosso dia intenso no Parque Nacional do Descobrimento, na região terrestre dos Abrolhos. Cruzamos de bike durante todo o dia a área de conservação de 23 mil hectares num percurso de cerca de 30km, que começou em Cumuruxatiba e terminou em Itamaraju, de onde partiríamos para subir o Monte Pascoal. Acordamos cedo em Cumuru para registrar o amanhecer na praia deste paraíso que pouco mudou em décadas –além do aumento do número de pousadas que, apesar de abundantes, são vazias.
Logo depois encontramos Geraldo Pereira, chefe do PARNA do Descobrimento, que nos guiou pessoalmente pelos principais atrativos do parque, na companhia de Albino, um experiente funcionário local. Eles nos receberam com entusiasmo, pois defendem a abertura da unidade para visitação pública.
“No momento estamos recebendo visitantes apenas com agendamento. Já temos um Plano de Manejo e precisamos implementar um Plano de Uso Público para que o parque seja aberto a toda a população e que isso sirva como ferramenta para a conservação”, explicou o gestor, que tem como desafio atual trabalhar para retirar da área protegida moradores invasores que se instalaram dentro do parque clandestinamente.
Estávamos na expectativa de registrar alguns animais para o nosso trabalho, pois tínhamos a informação de que eles eram vistos com frequência por lá, principalmente antas, queixadas, aves e até mesmo onças. Nosso primeiro contato com a fauna local foi um Jabuti avistado pelo Jaime. Poderia ter sido confundido facilmente com uma pedra no caminho, pois ele cruzava lentamente a estrada quando paramos para fotografar nosso primeiro anfitrião.
O segundo bicho foi mais peçonhento. Uma jararacuçu que estava à beira da estrada centenária descansando no calor. Em poucos minutos já nos sentimos imersos num lugar selvagem, nitidamente integrados a um ambiente natural e mágico. Seguimos para a lagoa, onde procurávamos encontrar as antas que costumam tomar banho e beber água por lá, mas não tivemos sorte. Optamos, então, por fazer umas trilhas mais fechadas para ver as árvores mais antigas do parque. Foi incrível observar uma mata atlântica (de tabuleiro), distinta daquela que estamos acostumados a ver no Rio de Janeiro.
Para o coordenador de projetos da Conservação Internacional, Adriano Melo, a abertura do parque pode beneficiar a porção terrestre dos Abrolhos em vários aspectos.
“Se aberto e se este estímulo for levado adiante, o parque vai cobrir uma lacuna na região com uma área de lazer com este perfil de floresta à disposição da população, um local bom também para pedalar, e então suprir uma demanda da região, além de estimular a economia local“, afirmou.
Um dos pontos altos do dia foi nossa subida ao observatório dos guarda-parques, uma torre de cerca de 40m de altura do centro da unidade com uma guarita no topo. Para nossa surpresa, Geraldo nos informou que batizará o observatório com o nome “Miramundos”, em nossa homenagem. Esta novidade nos deixou muito felizes e esperamos que dê certo o plano de abertura do parque para uso público em breve para que toda a população possa usufruir para conservar esta joia baiana.
Enquanto isso, vamos torcer para que a burocracia ande e que os investimentos necessários para o equipamento do parque sejam feitos o quanto antes.
Rafael Duarte faz parte do projeto de expedições Miramundos.