*Por Rodrigo Lucchesi, maratonista
Alguns eventos marcam nossa vida. Com a primeira maratona não podia ser diferente. Quando comecei a correr, participava de provas de 5k, 10k e até Meia-Maratona. Uns anos mais tarde, resolvi que havia chegado a hora de escrever um capítulo importante na minha vida. Nem escrever livro, nem plantar árvore… eu ia correr uma Maratona!
Estava voltando a correr depois de uns meses parado e, logo no primeiro treino longo minha planilha pedia 18km, mas eu mal consegui fazer 10. Então tive que reconstruir meu condicionamento, aos poucos, visando atingir o pico de treinamento um mês antes da prova, quando correria 30km. E no último mês deveria diminuir gradualmente minha rodagem, para descansar para a prova.
Cada semana recebia do treinador a planilha com os treinos, que eram basicamente 2 treinos intervalados, 2 trotes regenerativos e 1 longo no fim de semana. Não foi nada fácil. Ao longo de 4 meses tive diversos obstáculos: lesão na planta do pé, viagens de trabalho, provas no mestrado, a famosa preguiça naquele dia chuvoso… Acabei correndo em média apenas 3 vezes por semana, além do trabalho de musculação, fundamental para as pernas aguentarem o impacto dos 42km.
Na véspera da prova, a parte mais difícil da Maratona: DORMIR! Deitei às 11h da noite e o sono não vinha. Quando finalmente adormeci, comecei a sonhar que não estava conseguindo dormir (?!) e acordei às 4h da manhã. Resumindo: dormi apenas 3 horas!
No grande dia, a prova começou sem grandes problemas, comecei correndo em um ritmo confortável e o tempo não estava tão quente. Na 2ª metade da prova é que a verdadeira maratona começa: as pernas começam a pesar, a temperatura a subir, a cabeça a se questionar: o que estou fazendo aqui?
Nos últimos cinco quilômetros as pernas imploravam para parar, ao meu redor a maioria das pessoas caminhava, como se fossem soldados voltando da guerra, trôpegos. Apesar de já ter caminhado três vezes ao longo da prova, fiz questão de não parar nesse trecho porque sabia que voltar a correr depois seria muito doloroso. Tomei duas aspirinas e segui devagar e sempre.
Reta final! Vejo, enfim, as tendas das assessorias esportivas, começo a escutar o som do alto falante e o pórtico de chegada aparece no horizonte. Meus últimos quatro meses passam em flash-back pela minha mente, lembro dos treinos mais pesados, da dificuldade em acordar cedo, da abstinência de chocolate nas últimas semanas… Olho para o relógio, o coração acelera, meus olhos se enchem de água, penso na minha família e nos meus amigos que me apoiaram, começo a gritar, minhas pernas dão aquele último gás, abro os braços, vejo minha esposa grávida na linha de chegada e, literalmente, corro pro abraço!
Fim de prova! Meta cumprida (e comprida!) e sonho realizado. Fiquei sem andar direito uns três dias, mas quem se importa? Uma semana depois já estava pensando na próxima maratona!
*Rodrigo Lucchesi é corredor viciado, já correu 4 Maratonas, 10 Meias entre outras provas menores, mas garante que está só começando. Escreve para a Revista Contra-Relógio e no blog Linhas de Chegada. Acompanhe Rodrigo no Instagram – @rodrigo21fev79 e no Twitter – @rdlucchesi.