Há duas semanas, após 31 horas de viagem, cheguei finalmente a Kailua-Kona, no Havaí, local do Campeonato Mundial de Ironman, que aconteceu no último sábado (11 de outubro).

No dia seguinte à minha chegada, ainda confuso pelas 7 horas de fuso horário e pelas muitas de voo ainda sentidas nas pernas e na cabeça, me dei conta de como a preparação para um Ironman é um verdadeiro MBA em gerenciamento de tempo!

Temos aproximadamente 4 meses para nos prepararmos para completar os 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42,195km de corrida em menos de 17 horas.

Mas gastamos muitas vezes mais do que isso semanalmente pra chegar lá. Como atleta amador, preciso conciliar isso com uma rotina de trabalho, o que não é nada fácil.

Muitas pessoas costumam me perguntar qual dia da semana tiro pra descansar. A resposta? Nenhum.

Pode parecer loucura, mas em um esporte que engloba três modalidades não existe tempo pra perder.

São pelo menos 4 treinos de ciclismo, 4 de corrida e de 5 a 6 de natação por semana, além de duas sessões de musculação, várias de alongamento, massagem…

Tenho impressão de que a vontade de dominar o tempo sempre esteve presente entre nós. Eu, provavelmente influenciado pela correria dos treinos e focado em conciliar isso com a minha rotina de vida normal, sempre achei curioso quando alguém fala “não tenho tempo pra isso!”.

Longe de me achar especial ou melhor do que alguém, mas todos nós temos as mesmas 24 horas todos os dias. 365 dias por ano.

A verdade é que ninguém TEM tempo, todos nós ADMINISTRAMOS o tempo que nos é dado, aquelas mesmas 24 horas.

Escolhi usar algumas dessas horas do meu dia me preparando para um desafio que me faz me sentir saudável, feliz e realizado. E, nesse aspecto, vejo grande semelhança entre todas as formas de atividade física. Não existe esporte melhor ou pior, prova mais ou menos importante, objetivo mais ou menos desafiador.

O que realmente importa é que cada um saiba administrar o seu tempo reservando algumas horas do seu ‘banco de horas pessoal’ para exercitar o corpo e, por que não, a mente.

Quando comecei no triathlon, há 5 anos, nunca havia corrido mais de 7km de uma só vez. Agora me preparo para provas em que preciso correr 42km, depois de nadar e pedalar. Uma tremenda mudança.

E essa é outra coisa que aprendi sobre tempo e esforço treinando para o Ironman: é tudo uma questão de referencial.

No dia em que você completa sua primeira prova de corrida de 5km ou de maratona aquática de 1km você imagina que jamais vai correr como aquele seu amigo que fez a meia-maratona. Você tem muito trabalho, filhos, muitas responsabilidades. Daí em 6 meses lá está você alinhado para a sua primeira prova de 21km.

Já passou a trocar os almoços de trabalho por 40 minutos de musculação pra fortalecer os joelhos duas vezes na semana. E, na mesma semana, acorda 3 vezes uma hora mais cedo para completar os treinos longos.

As mesmas 24 horas que mal comportavam a aventura de correr os primeiros 5km agora já parecem um terreno fértil para, quem sabe no próximo ano, a primeira maratona!

Bom, como estou de férias (antecipadamente calculadas pra permitir a viagem pro Havaí) pude escrever esse post no meio da tarde, descansando dos 3km de natação da manhã, faltando uma hora para os 10km de corrida da tarde e na contagem regressiva de 11 dias para os 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42,195km de corrida. Ah, e sem esquecer…em menos de 17 horas!

Faça bom proveito das suas próximas 24 horas e não se esqueça de dedicar parte delas ao corpo e a mente. O espírito agradece.

Bons treinos!

Rafael Gonçalves é bicampeão da Travessia dos Fortes, ex-recordista brasileiro dos 400m medley, completou 7 vezes a prova Ironman e tem o título de Melhor Natação do Mundial de Ironman do Havaí, em 2013.