Quando você conta para as pessoas que está treinando para um Ironman, os seus interlocutores geralmente se dividem em dois grupos: os que não fazem a menor ideia do que se trata e os que não conseguem entender o que leva alguém a colocar o corpo diante de tamanha provação.
Aos leitores que se enquadram no primeiro grupo, não fiquem preocupados. Em geral, não ficamos ofendidos, e o Ironman nada mais é do que um triatlo de longa distância. O maior deles realizado em um único dia.
São 3,8km de natação seguidos de 180km de ciclismo e uma maratona (42.195m).
Para os que ainda ficaram perdidos vou tentar simplificar: é como nadar a orla de Copacabana inteira do Posto 6 ao Leme, subir então na sua bicicleta e pedalar até Búzios e, lá chegando, descer da bike e, na sequência, correr uma maratona.
Bom, acho que não precisa ser triatleta e nem morador do Rio de Janeiro pra entender que é bastante.
O segundo grupo –daqueles que já sabem do que se trata essa verdadeira odisseia– costuma tentar descobrir o que leva homens e mulheres como eles, com empregos, famílias, filhos, vida social (há controvérsias), responsabilidades e contas a pagar, a desafiar os limites de seus corpos e mentes para completar essa prova.
Nesse momento, me preparo para o meu oitavo Ironman.
Participarei no dia 11 de outubro do Campeonato Mundial da modalidade em Kailua-Kona, no Havaí, onde, em 1978, começou toda essa história.
Também tenho emprego, família e uma boa coleção de contas a pagar, mas há cinco anos acabei entrando nessa pela primeira vez como um desafio pessoal e acabei descobrindo que o Ironman é muito mais do que um esporte ou uma modalidade do triatlo. É, na verdade, um estilo de vida.
O esporte está cada vez mais popular e, hoje em dia, muito provavelmente até você convive com alguém que já fez ou ainda fará um Ironman.
Nem sempre esse homem ou mulher de ferro terá um corpo escultural ou uma rotina de treinos de fazer inveja, como é de se esperar. Ele pode ser o seu chefe. Ou o seu estagiário.
Um olhar mais atento e você identificará algumas características marcantes: uma garrafa de água ou isotônico sempre à mão, um relógio digital estranho e aparentemente desproporcional e um par de tênis exageradamente coloridos.
Mas a característica que realmente diferencia essa tribo não está nas roupas e nem nos equipamentos.
A determinação e a vontade de se superar a todo custo são a regra.
Afinal de contas, mais difícil do que fazer um Ironman, é treinar para um Ironman. E, nesse aspecto, o apoio da família, amigos e profissionais envolvidos é fundamental.
Hora de tirar a sunga de dentro da mochila do trabalho e ir ali fazer mais um treino. Afinal de contas, falta pouco mais de 2 semanas para o Ironman do Havaí.
Pra você que se animou ou acaba de descobrir que o Ironman existe, fique atento.
Na próxima vez que alguém disser pra você no escritório que precisa “correr pra casa”, ela pode estar falando literalmente!
Rafael Gonçalves é bicampeão da Travessia dos Fortes, ex-recordista brasileiro dos 400m medley, completou 7 vezes a prova Ironman e tem o título de Melhor Natação do Mundial de Ironman do Havaí, em 2013.