*Por Jady Malavazzi, atleta de Ciclismo Paralímpico
Depois de uma longa jornada de treinos e sacrifícios que culminou nos Jogos Paralímpicos, consegui tirar férias e passar alguns dias em que vivi muitas aventuras e histórias pra contar.
Desde que me mudei para Brasília e comecei a treinar, não tinha finais de semanas ou feriados. Por mais de 1 ano e meio estive cumprindo planilhas de treino, planejamento, dieta, viagens para treinamento, competição e, no máximo, uma viagem para ver a minha família no Sul, mas minha bicicleta sempre comigo. Dessa vez foi diferente! Não tive que me preocupar com bicicleta, capacete, óculos, ferramentas, suplemento, uniforme… Uma viagem normal, que não é nenhum pouco normal pra mim, só com roupas para curtir.
O destino escolhido foi o Chile, onde fiquei passeando por 12 dias com uma amiga chilena que também é cadeirante. Alugamos um carro (sim, duas meninas cadeirantes!) e caímos na estrada. Começando por Santiago e região, fui aos pontos turísticos clássicos, lugares lindos numa cidade acessível. Em alguns lugares tivemos um pouco de dificuldade, mas as pessoas nos ajudavam. Em outros –pouquíssimos!– era impossível de chegar, como o Cerro de Santa Luzia, cujo único acesso é caminhando, e não conseguíamos chegar com a cadeira de rodas. Conheci também um pequeno povoado próximo de Santiago que não é muito turístico para estrangeiros, visitei a região de Cajon del Maipo, com uma paisagem realmente muito linda e com lugares inexplicáveis! Um deles é o famoso Embalse del Yeso, que não tem nem o que falar. Para fechar Viña del Mar e Valparaíso.
Depois de uma semana em Santiago, fomos para o norte do Chile, numa pequena cidade chamada Punta del Choros, a quase 600km de Santiago, e dirigi quase 7 horas (ainda bem que eu ainda estava bem treinada!). Esse lugar é um povoado, sem ruas pavimentadas, com poucas casas, alguns restaurantes, um armazém e quase nenhum sinal de telefone, distante quase 120km da cidade mais próxima, sendo 50km em estrada terra/areia, parecido com deserto. Na verdade, não sabíamos que seria assim, o carro estava na reserva de combustível, e o posto mais perto era onde? Na cidade distante, a 120km. Conversamos com algumas pessoas e enfim conseguimos descobrir um morador que tinha gasolina para vender em sua casa. Foi a nossa salvação.
Nessa viagem fiz meu primeiro mergulho autônomo. Isso mesmo! E cadeirante pode mergulhar? Eu estava um pouco ansiosa, com um medinho não só pelo mergulho em si, mas por ser paraplégica, e foi mais uma das experiências mais fantásticas da minha vida! Foram quase 40 minutos mergulhando numa água muito fria (12ºC), mas que passaram despercebidos depois que submergi neste mundo.
Nos últimos dias de viagem, fizemos a rota das estrelas. Um lugar com vários observatórios astronômicos, lindo de se visitar com pequenos lugares turísticos no caminho para o observatório. Nossa, foram muitos quilômetros e muitas aventuras…
Mas espera aí… Vocês devem estar se perguntando como duas meninas cadeirantes saem dirigindo por aí numa viagem dessas? Bom, precisei de um carro automático (e a equipe da Sixt Rent a Car deu todo suporte e nos arrumou um carro sensacional) e levei uma adaptação portátil que se instala facilmente com alavancas para o freio e acelerador na mão. Foi a primeira vez que usei essa adaptação, que é um pouco diferente da que uso no meu dia a dia, mas funcionou perfeitamente.
Fim de férias, mais de 2200km rodados, uma grande aventura e uma experiência para vida. Agora, sim, recuperada e preparada para iniciar a temporada 2017. Ah, visite o Chile!
*Jady Malavazzi é atleta de Ciclismo Paralímpico, categoria Handbike H3. Prata nos Jogos ParaPan-Americanos de Guadalajara, tetracampeã brasileira (2011 a 2014) e Top 10 no ranking mundial da modalidade. Vem representando o Brasil em Campeonatos Mundiais da modalidade, nos Jogos ParaPan-Americanos de Toronto 2015 e está pré-convocada para os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Acompanhe a Jady nas redes sociais (@jadymalavazzi no Instagram ou sua fanpage Jady Malavazzi).
