A genética pode ser responsável por dificultar o emagrecimento de adolescentes acima do peso, segundo uma pesquisa realizada pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgada pela agência Fapesp. A variação seria no gene receptor da leptina – um hormônio responsável por “avisar” nosso corpo que estamos saciados.
Durante 12 meses, os pesquisadores acompanharam 76 adolescentes pesando entre 101 e 120 quilos. O grupo se engajou em um programa que incluía atividade física, acompanhamento clínico e nutricional com profissionais de todas as áreas, como médicos, nutricionistas, psicólogos e professores de educação física. Apesar de todos terem feito o mesmo processo e reduzido gordura visceral, corporal e melhorado resultados nos exames, metade perdeu apenas 6% do peso inicial, enquanto a outra metade perdeu 10%.
Diante dessa diferença, os cientistas ficaram intrigados e duvidaram que apenas o desempenho fosse a resposta. Por isso decidiram investigar a genética dos jovens e perceberam uma alteração no gene receptor da leptina entre os meninos e meninas que perderem menos peso.
A investigação é importante, sobretudo se levarmos em consideração o aumento da dificuldade em perder peso ao longo da vida. “Na infância e na adolescência, ocorre a aceleração do metabolismo por causa da fase de crescimento. É uma ótima oportunidade de mudar hábitos e perder peso. Fora isso, a chance de um adolescente obeso se tornar um adulto obeso é estimada em 80%” , de acordo com a professora Ana Raimunda Dâmaso.
Níveis muito altos de leptina
Apesar de teoricamente, quanto mais leptina, mais saciedade, nas pessoas acima do peso, acontece justamente o contrário. Elas produzem muita leptina, o que em excesso, pode levar a uma resistência à ação do hormônio e a inibição da fome não acontece. “No estudo, percebemos que ambos os grupos de adolescentes obesos apresentavam hiperleptinemia, o que era esperado, porém apenas o grupo sem o polimorfismo (variação no gene) conseguiu reduzir a leptina para valores normais depois do processo de emagrecimento”, disse Dâmaso à Agência FAPESP.
Diante dessa associação entre dificuldade de emagrecer e alteração genética, os pesquisadores pretendem buscar estratégias para melhorar o processo de emagrecimento. “Identificamos a dificuldade e agora precisamos propor soluções. Talvez essa população precise de um alimento funcional para ter os mesmos benefícios, ou uma intensidade de exercício físico diferente da utilizada no programa para alcançar os mesmos resultados”, disse Flávia Corgosinho, autora principal do estudo.