Os dias de trabalho têm sido cansativos e desmotivantes bem mais que o normal. O rendimento e a criatividade estão deixando de existir. As tarefas acumulam, o estresse aumenta e o resultado disso tudo é que não há mais vontade de trabalhar. Isso é comum pra você? Talvez seja o momento de saber que essas situações podem ter relação com a síndrome de Burnout.

O termo, também conhecido como “síndrome do esgotamento profissional”, vem da expressão usada na língua inglesa que significa “exaustão” – uma analogia à combustão de um carro com o tanque esgotado.

Apesar de ser uma patologia relativamente nova, a Burnout é considerada um tipo de transtorno depressivo moderado, só que a diferença de outros quadros está no gatilho que a provoca: o trabalho. Os sintomas mais frequentes são sempre ligados às atividades laborais, como diminuição da capacidade intelectiva e cognitiva, irritabilidade, agressividade, falta de sono e indisposição.

Estamos vivendo a era dos “funcionários polvos”

As mudanças nas relações de trabalho influenciam na incidência de casos dessa síndrome. Muitos funcionários acabam aderindo a diversas ocupações e se tornando pessoas multitarefas.

O psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria/ABP, Thyago Azevedo, conta que a sociedade está vivendo uma crise de “funcionários polvos”, que exercem funções demais para permanecerem no emprego ou conseguirem sustentar a posição alcançada. Os deveres na frente dos desejos, prazeres e necessidades próprias e o acúmulo de sofrimentos é o conjunto para se chegar ao diagnóstico da síndrome.

“Burnout é uma síndrome nova, apesar de vir de uma patologia pré-existente que é a depressão. O que a faz recente é a ligação direta com a exaustão física e mental causada pelo trabalho, que não é considerada uma estafa. E o tratamento para ela é feito por um especialista em saúde mental, unindo a psicoterapia e medicação antidepressiva”, afirma Thyago.

De acordo com apuração realizada pela International Stress Management Association (Isma-BR), cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com esse tipo de exaustão. Em um ranking de oito países elaborado pela Isma-BR, o Brasil está à frente da China e dos Estados Unidos, perdendo apenas para o Japão onde 70% da população apresenta os sintomas da Burnout.

João da Silva, 42, está incluso nessa estatística. Acordar para trabalhar se tornou uma dificuldade muito grande. Tudo era uma motivação para não enfrentar aquela situação que o esgotava emocionalmente. A energia, a vontade de fazer qualquer atividade e até as coisas mais prazerosas do dia a dia não davam mais o entusiasmo que sempre teve. Foi aí que ele percebeu algo de errado.

“Como trabalho na área da saúde, o diagnóstico foi dado de maneira bem simples. Por conviver com colegas médicos e enfermeiros, consegui reverter esse quadro. Conheci muitas pessoas que passaram pela mesma condição, pois a sobrecarga de trabalho é muito grande. Por isso, passei a me exercitar mais para gastar bastante energia e comecei também a ter uma rotina saudável de sono para esvaziar a questão emocional. Isso me ajudou muito”, conta.

Segundo João, a relação com o trabalho e os afazeres não modificou, mas aprendeu a canalizar as energias e potências de maneira correta e entender os próprios limites. Ele enfatiza que esses eventos depressivos geralmente se passam no corpo, no emocional e na forma de se comportar perante o trabalho.

Ter a responsabilidade de cuidar do bem-estar de outras pessoas pode ser um gatilho

O Dr.Thyago Azevedo aponta que alguns cargos podem gerar uma ocorrência maior de pessoas com a doença. Líderes de empresas, gestores, profissionais da saúde, advogados e policiais, por exemplo, costumam apresentar sintomas da síndrome com mais frequência, pois são responsáveis por outros indivíduos e o estresse emocional pode ser mais intenso. Alguém que tenha uma personalidade mais sensível e seja submetido à pressão elevada no trabalho pode sentir as perdas na rotina e sofrer mais.

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o transtorno na Classificação Internacional de Doenças. Essa lista elenca enfermidades e estatísticas de saúde que prevalecerão nos próximos anos. A OMS descreve a Burnout como “uma síndrome resultante de um stress crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.

Tomar sol com frequência auxilia no tratamento da doença

Viver momentos de lazer, praticar atividades físicas, ter uma alimentação saudável e se expor ao sol nos horários adequados são formas de aliviar os sintomas da Burnout. O corpo precisa funcionar bem para que tratamentos medicamentosos sejam eficazes.

O Dr. Thyago Azevedo também reforça que não adianta alguém só fazer uso de remédios antidepressivos prescritos por um profissional qualificado. “É preciso que haja um afastamento da atividade fim, ou seja, do trabalho, pois é ela que desencadeia todos esses sintomas. Estamos adoecendo por causa do trabalho”, reforça.

João, que passou pela síndrome há oito anos, afirma com toda certeza que essas situações são para refletir e reformular a conduta para a vida, e relembra a importância de sempre ter o acompanhamento de um profissional.