*Por Rafael Duarte, da equipe Miramundos

A segunda etapa da nossa expedição “Abrolhos – Terra e Mar” foi marcada pela exploração das Unidades de Conservação terrestres administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), que nos concedeu permissão para visitar e documentar as unidades. Chegamos aqui em Trancoso para montarmos nossa base por quatro dias na Mata N’ativa, uma pousada que tem tudo a ver com a gente e que foi construída em harmonia com a vegetação original.

Voltamos esgotados do nosso dia no Parque Nacional do Pau-Brasil, unidade que acaba de ter seu plano de manejo aprovado. Ele terá modelo de negócio a servir de exemplo para outras Unidades de Conservação (UC) da Região que serão abertas para uso público futuramente. Entre o público que o parque deseja receber, há um destaque especial para ciclistas e cadeirantes. Isso porque, além de ter uma área extensa e propícia para o pedal em toda sua extensão, há trilhas adaptadas com acessibilidade. Pedalamos o dia inteiro entre subidas e descidas, algumas bem duras. Na UC, está reunida a maior concentração de exemplares de Pau-Brasil do mundo. Tivemos a chance de conhecer algumas árvores que estão ali por mais de mil anos, assim como algumas mudas jovens que brotaram naturalmente aos pés de seus ancestrais.

Porto Seguro

Fabio Faraco, chefe da unidade pelo ICMbio, comemora a aprovação do plano de manejo e conta que está trabalhando para a abertura do parque para visitação. “Estamos desenvolvendo, em parceria com a Conservação Internacional, um plano de negócios para usar no parque as ferramentas mais modernas do ecoturismo. Queremos servir como modelos para outras unidades que formam esse corredor verde na região dos Abrolhos e que permitirá que as espécies migrem de um parque para outro”, disse o gestor.

Tais Lucilio, assistente de projetos da Conservação Internacional, concorda. “Teremos aqui as melhores práticas do mundo para o uso público da UC. A ideia é fortalecer o parque pensando em um trabalho em um território mais abrangente, que engloba três parques nacionais, duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e uma Refúgio de Vida Silvestre (Revis). Articular com todos os agentes para que projetos como este sejam viabilizados é fundamental.”

Parques Nacionais de Porto Seguro

Para o miramundo Jaime, o dia no parque foi uma experiência bem selvagem. “É um lugar que tem muito potencial para quem pedala. Trechos longos, com a possibilidade de alguns single tracks que serão abertos. Algumas descidas e subidas bem técnicas, nas quais podemos observar a diversidade do terreno. Um lugar selvagem onde ficamos muito tempo sem ver ninguém e com contato com os animais do parque, como tatus, cobras, aves e jabutis. Para quem curte caminhar, também será um destino muito interessante –destaco a trilha das bromélias gigantes. Gostei bastante da experiência”, resumiu Jaime.

Já o dia de chuva na segunda não impediu nossa visita à Revis Rio dos Frades, uma unidade de conservação formada por seis propriedades privadas em um modelo diferente. A área é composta de um mosaico costeiro que inclui restinga e uma mata ciliar.

Tiago Leão, chefe da unidade, destacou que os avanços pela preservação da área são lentos. “Queremos desenvolver um plano de manejo. Estamos ainda sem muita estrutura para desenvolver os projetos, mas a ideia é que no futuro as pessoas possam visitar e com isso ajudar a conscientizar a população pela preservação do local”, disse Tiago, que lida com algumas invasões nas propriedades, uma delas flagrada pela nossa equipe.

Miramundos Abrolhos

Atualmente, a Conservação Internacional está ajudando o refúgio na implantação da atividade de observação de aves, junto com outras áreas protegidas da região. Segundo Adriano Melo, coordenador de projetos da CI-Brasil, a atividade é compatível com os objetivos primários de criação da UC, a proteção de ecossistema de restinga e espécies associadas, raras e endêmicas. Já sobre o Parna do Pau-Brasil, Melo acredita se tratar de um case de sucesso. “Diante do contexto de alta vocação turística de Porto Seguro, condição fundiária bem resolvida e rede de parceiros da região, o parque já é um case. Tem potencial para contribuir para alavancar o ecoturismo, ainda pouco nestas redondezas, e assim ajudar a repartir benefícios sociais, econômicos e ambientais”, destacou.

Fotos: Flavio Forner

Rafael Duarte faz parte do projeto de expedições Miramundos.