*Por Rafael Duarte, da equipe Miramundos
Já ouvi esta frase de muitos atletas de alto rendimento e de diversas modalidades diferentes: é quase impossível competir sem sentir nenhuma dor. Me lembrei disso quando conversei com o Jaime Portas Vilaseca, do projeto Miramundos, quando ele me contou como foi a prova The North Face Endurance Challenge Ultra Trail, na região das Agulhas Negras (RJ), que rolou em maio.
Ele me disse que estava muito ansioso com a prova. O motivo? Não apenas os 80km que estariam pela frente, mas a surpresa de uma lesão no quadril que sentiu semanas antes da prova durante a reta final de seus treinamentos. Opa, sinal amarelo.
Experiente que é, Jaime logo procurou auxílio profissional de diferentes técnicas: fisioterapia, quiropraxia e acupuntura. Por alguns dias pensou que teria que desistir da prova. E isso passa sempre na cabeça de atletas antes de competições importantes, o que pode gerar grandes frustrações pela encruzilhada: me poupo para me cuidar ou corro o risco de piorar?
Foi então que descobriu em uma das sessões de quiropraxia que tratava-se de um desalinhamento no quadril, que foi tratado. Como nenhum dos profissionais que o consultaram condenou a lesão, ele tinha o OK clínico para seguir em frente, apesar das dores ainda incomodarem um pouco –dentro da normalidade. Foi então que o autoconhecimento contou bastante.
Jaime percebeu que, ao pedalar –e assim reduzir o impacto–, as dores não eram percebidas. E optou também por testar a troca do tênis. Muitas vezes o causador de algumas lesões também nos joelhos.
Depois de muita água quente aplicada no local da dor, chegou a hora. “Como senti aquela lesão na véspera da prova, acabei reduzindo minhas expectativas em relação a resultados e entrei muito tranquilo. Estava sozinho, relaxado e concentrado. A dor não impedia que conseguisse correr”, contou.
Para ele, o pulo do gato foi estudar bem o percurso da prova nos dias anteriores. “Percebi que os 40km iniciais seriam decisivos. Então dei um gás na primeira parte e imprimi um ritmo puxado. Ao chegar no meio da prova, me dei conta que estava em 16º lugar. Não acreditei. Fiquei surpreso e me motivei a seguir adiante. Me sentia bem, pois a recuperação da lesão tinha sido bem feita.”
Jaime diz ter aprendido com a irmã Manu que quanto antes se chega, menos se sofre. Com isso em mente, e carregando apenas algumas comidas, um casaco e duas garrafas d’água, ele se encaminhou para a reta final motivado pela companhia de André Medeiros, um amigo de longa data que encontrou pelo caminho.
Na segunda metade, um ajudou o outro na parte mental. No km 70, quando a prova chegava ao fim –o momento em que tudo no corpo dói– vem a notícia de que o trajeto havia sido alterado e que a prova tinha ganhado mais 10km. Ou seja: 90km no total.
Sem se abalar, nosso miramundo completou a prova após 12 horas, 14 minutos e 14 segundos. Feliz, surpreso e orgulhoso com seu resultado: 15º colocado dentre 300 participantes (21o geral) e 7o em sua categoria. Muitos desistiram.
Rafael Duarte e Jaime Portas Vilaseca fazem parte do projeto de expedições Miramundos.