Em ritmo de crescimento acelerado, a prevalência da diabetes deve mais do que dobrar no mundo até 2050. A estimativa é que 1.3 bilhão de pessoas recebam o diagnóstico, cerca de 13% da população mundial – hoje a prevalência global é de 6,1%. Os dados fazem parte de um amplo estudo publicado pela revista The Lancet e acendem um alerta para os sistemas de saúde, que têm o desafio de investir cada vez mais em prevenção e tratamento, principalmente em países em desenvolvimento. De olho em como as pessoas com a condição podem viver mais e melhor, medicamentos mais modernos e a prática de atividades físicas estão no radar dos especialistas. 

De acordo com a endocrinologista Priscilla Martins, é possível ter uma vida tranquila e longa mesmo após o diagnóstico, e para isso, o foco deve ser tratar a diabetes a partir de uma mudança no estilo de vida, que envolve muito mais do que controlar a glicose, como se acreditava anos atrás. “Hoje sabemos que a perda de peso possui um papel central no tratamento da diabetes recém-diagnosticada. Em fase inicial, perder 15% ou mais do peso é suficiente para que muitas pessoas evoluam com remissão da doença e mantenham o bom controle glicêmico sem o uso de medicamentos”, explica a endocrinologista. Por isso, é importante fazer o acompanhamento médico, nutricional e com um educador físico.

Medicamentos cada vez mais eficientes 

Apesar do controle glicêmico se manter sem medicamentos em determinados casos, é necessário lembrar do papel central de boas medicações para os pacientes diabéticos. Segundo a médica, duas classes de remédios revolucionaram o tratamento da doença recentemente: os agonistas do GLP-1 e os inibidores de SGLT-2. Os primeiros “imitam” uma substância naturalmente secretada em nosso intestino que contribui para o controle da glicose e leva para o cérebro a mensagem de saciedade, ou seja, além de controlar a glicemia, eles ajudam os pacientes a seguir o plano alimentar. Já os inibidores de SGLT-2 eliminam o excesso de glicose pela urina e, mais do que controlar a glicose, auxiliam na regulação da pressão arterial e reduzem o risco de doenças cardiovasculares. As duas classes estão disponíveis há alguns anos no Brasil, porém o agonista duplo aguarda aprovação por aqui e outros estão em fase de estudos. 

O exercício físico como um pilar do tratamento 

Nos seus atendimentos, a endocrinologista Priscilla Martins conta que a prescrição da prática de exercícios físicos é sempre lembrada e reforçada por ela. “A maior parte da glicose do corpo é armazenada e absorvida pelo músculo e a resistência insulínica periférica originada no músculo é um dos principais fatores que levam à diabetes. O exercício é necessário porque aumenta a captação de glicose no músculo e melhora a resistência insulínica periférica. Resumindo, a prática ajuda o corpo a absorver a glicose do sangue e também influencia o metabolismo da glicose”, explica. 

De acordo com Eduardo Netto, diretor técnico da Bodytech e professor de educação física, o exercício aumenta a sensibilidade à insulina, permitindo que o corpo utilize a insulina de forma mais eficiente. Esse efeito pode durar por várias horas após o exercício, promovendo um melhor controle glicêmico ao longo do dia. Além disso, ele lembra que treinos regulares ainda reduzem a pressão arterial, o ganho de peso e o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, uma das consequências mais comuns e sérias atreladas à diabetes. 

Outro benefício fundamental do exercício, lembrado por Netto, para qualquer pessoa é a redução do estresse, que no caso de pacientes com diabetes, pode ser gerado pela própria condição e suas necessidades de cuidado. Praticar uma atividade prazerosa regularmente alivia a tensão, melhora o humor e traz mais disposição. 

Atenção antes de começar uma atividade 

Antes de dar o primeiro passo nos exercícios é sair do sedentarismo, os pacientes devem consultar sua equipe de saúde, que vai  determinar o tipo, a duração e a intensidade de exercício apropriados para o seu momento. Netto explica que monitorar os níveis de açúcar no sangue, especialmente se o paciente usa insulina ou medicação, é importante para evitar a hipoglicemia, que acontece quando a glicose desregula e atinge níveis muito baixos. 

Em resumo, garantir aos pacientes um cuidado multidisciplinar, que inclua exercício físico, alimentação balanceada, exames regulares, acesso a medicamentos mais eficazes e apoio psicológico, e a tendência para que mais e mais pessoas com diabetes vivam com autonomia, qualidade e por mais tempo.