*Por Ana Tapajós
Há algum tempo, duas amigas e eu decidimos que faríamos uma viagem de bicicleta pela Europa. Os países escolhidos foram Suíça, Itália e Áustria. Nenhuma de nós é atleta de ciclismo ou de mountain bike (MTB), por isso, treinamos bastante na Vista Chinesa, na Mesa do Imperador e na subida para o Cristo Redentor antes de nos desafiarmos pelos Alpes. Essa experiência para mim foi algo realmente grandioso e me marcou muito.
Não fizemos o percurso inteiro só de bicicleta, tínhamos uma van de apoio com nossas mochilas e fazíamos alguns trajetos de carro. Entretanto, a Europa é perfeita para aqueles que quiserem se aventurar ainda mais e fazer a travessia somente com a bike e poucos pertences. Existem inúmeros hotéis e albergues voltados só para os viajantes ciclistas.
O legal da Europa é que se pode optar por uma viagem mais de speed, resistência ou de mountain bike com muitas trilhas. Optamos por fazer uma viagem que tivesse um pouco dos dois e por isso foi tão completa. Não tínhamos muita experiência com mountain bike e fomos conhecendo pessoas pelo caminho que foram nos ensinando e nos levando nas trilhas.
No geral, as subidas europeias são bem desafiadoras, não só pela altitude, mas também por serem bastante íngremes. O bom é que sempre tem uma descida maravilhosa, com um visual inacreditável de recompensa!
Escolhemos a Europa por toda a sua estrutura. Começamos pela Suíça já que lá a população está bastante habituada a andar de bicicleta – e a bike é considerada um meio de transporte por muitos. Esse fator facilita muito pois as ruas são sinalizadas, os motoristas respeitam os ciclistas, o asfalto é bem conservado. Enfim, encontra-se toda uma estrutura para esse tipo de viagem. Sem falar que é um país ultraorganizado, limpo e seguro. E há rotas específicas que indicam lugares mais inóspitos e menos urbanos.
Levamos nossas bicicletas em “bike bags” e montamos lá. Antes de começarmos, passamos em lojas especializadas e fizemos os ajustes necessários. Apesar de passarmos por longos trechos de speed, optamos por levar moutain bikes pois queríamos aprender e nos arriscar em trilhas leves. Todos os lugares que visitamos são muito bons para a prática tanto da Mountain Bike como de speed. A Suíça é recheada de parques para a prática de MTB. Além disso, as estradas são perfeitas para quem gosta de superação e resistência. Na cidade de Grindelwald, encontramos um grupo bem legal que trabalhava em uma oficina de Bike, que além de nos ajudar a regular as bicicletas, nos levou pra um treino de MTB ótimo.
Aproveitamos muito o caminho e conhecemos vários lugares especiais. Como Thun, uma pequena cidade na Suíça que tem um grande rio que a corta – os moradores de lá criaram um método para surfar no rio da cidade. Surfamos com eles e foi incrível (apesar da água congelante). Ainda na Suíça, indico um downhill maravilhoso de Grindelwald até Meiringein. Depois, fizemos uma travessia por Grimselpass, bastante desafiadora e cansativa, mas um dos lugares mais lindos que eu já vi. Imperdível! Passamos por parques de arvorismo e mountain bike, lagos onde se pode praticar stand up paddle e caiaque.
Me marcou muito também o caminho para chegar em St. Moritz. Passamos por uma subida longa e íngreme, uma amiga até passou mal, foi muito pesado. Lembro que subi sem parar, no meu limite. Chegando no topo, fizemos um downhill maravilhoso! Nunca vou esquecer o prazer que tive ao chegar em St. Moritz, o vento batendo no meu rosto e a vista incrível do grande lago da cidade. Na Itália, Cortina D’ampezzo foi muito especial. Visitamos o museu a céu aberto da Primeira Guerra Mundial, localizado no alto das montanhas. As dolomitas, que são as cadeias rochosas da região, possuem uma força inexplicável e uma energia fora do comum. Nesse dia, fizemos também uma escalada em rocha com um guia local, foi ótimo. Lá fica um dos maiores parques de MTB da Europa. É impressionante, dá para se perder entre as milhares de opções de trilhas todas adaptadas para a prática do esporte.
Na Áustria, foi muito mágico o dia em que encontramos cavalos selvagens e uma cachoeira maravilhosa. A Europa toda no verão é perfeita para a bicicleta! As cidades comportam uma estrutura muito boa, os ônibus e trens são adaptados para carregar as bikes, as estradas possuem uma ótima manutenção e sinalização (principalmente na Suíça). Vale muito a pena ir para lá pedalar e conhecer as belezas naturais e radicais dos diversos países europeus. Sempre tem algum rio, montanha, árvores por perto o que faz com que todo o caminho seja bem prazeroso.
Para mim, a grande vantagem de viajar de bicicleta é o contato com a natureza e a oportunidade de conhecer lugares mais inóspitos e de forma mais íntima. O legal da bike é que o viajante faz seu percurso de forma ativa, se exercitando, escolhendo seu tempo, seu caminho etc. Isso faz com que a viagem toda seja especial, não só o destino final, como também o trajeto até ele.
O que eu tenho a dizer para quem quer ter uma experiência parecida é ir com coragem e com vontade de conhecer e explorar coisas novas. É importante ter um planejamento, mas é legal também aproveitar os imprevistos e as novas oportunidades que surgirem. Você vai poder ir para qualquer lugar, onde não dá para ir de trem, carro ou avião.
Existem muitos lugares e pessoas que podem dar todo apoio e ajuda para fazer essa viagem. Passamos por lojas de bike e conhecemos inúmeros instrutores que salvaram a gente. É importante pedir dicas e, sempre que der, parar em uma loja especializada para dar uma olhada se está todo certo com a sua bicicleta.
*Ana Tapajós nasceu na Amazônia e mora no Rio de Janeiro desde pequena. Tem uma ligação muito forte com a natureza e ama praticar esportes ao ar livre, fazer trilhas, jogar futevôlei, surf, sup e viajar. Formada em Relações Internacionais pela UFF, atualmente é empresária e, nas horas vagas, apresentadora de TV. Gravou programas do Multishow e do Canal OFF, ama. Conheceu países como Rússia, Áustria, África do Sul, Europa e Estados Unidos.