*Por Rafael Duarte, documentarista e co-fundador da equipe de expedições Miramundos
Há alguns dias completei minha segunda meia maratona (21k). Desde então sigo pensando na prova para entender o que está por trás do meu resultado que, apesar de algumas adversidades, me surpreendeu. No ano passado, quando fiz a minha primeira meia, já abaixo das 2h, com o tempo de 1:59:11 (pace de 5:40) foi uma grande conquista pessoal. Cheguei a escrever aqui como havia ficado fora das corridas durante anos por conta de uma lesão, mas que com um treino que ia evoluindo lentamente feito com trabalhos de fisioterapia e musculação em paralelo, consegui uma marca que jamais poderia pensar. Afinal, a minha meta era apenas completar.
Neste ano, o aprendizado foi diferente. Com aquele primeiro bom tempo (para meus parâmetros pessoais), saí da corrida já pensando em repeti-la em 2018, mas com um pace melhor. Comecei então a projetar uma meta mais ousada, de fechar a edição de um ano depois baixando 10 segundos por km – ou seja, com pace de 5:30. Dali em diante segui correndo frequentemente na academia e na rua buscando aumentar as distâncias para melhorar o volume do treino sem me preocupar tanto com intensidade por enquanto.
Quando o ano virou, tive que mudar meu tipo de treino. Pois em abril, iria para o Nepal para fazer o trekking do Everest e viver durante um mês no Base Camp a 5.350m, fazendo caminhadas em altitude diariamente carregando meus equipamentos de fotografia e filmagem para as gravações de um documentário que fui rodar lá (ainda vou escrever aqui sobre este assunto). Com isso, passei a correr menos para não forçar os joelhos e evitar lesões nos tendões e articulações. Fiz uma dieta hipercalórica para ganhar uns 3kg sabendo que perderia peso na altitude e foquei meus treinos de musculação no fortalecimento das pernas e do core, enquanto fazia treinos outdoor específicos para me preparar os o trekking. Ou seja, subidas reais com peso (valeu, BT pela caneleira de 14kg para a minha mochila!). Era tudo que poderia fazer aqui no nível do mar, já que com a altitude só conseguiria lidar quando a expedição começasse.
Quarenta e cinco dias depois, quando retornei no fim de maio, a dois meses da meia de 2018 que havia me inscrito, meu quadro físico era outro. E o tempo curto até a prova. Minhas condições cardiovasculares estavam excelentes. Mas com a parte muscular debilitada. Perdi 6kg, numa média de 1kg por semana de expedição em alta montanha. Fui voltar a correr pensando em dar um gás para me preparar para a prova e, logo nas duas primeiras corridas, já senti uma dor nas patelas que nunca tinha sentido antes. Meu fisioterapeuta logo detectou a causa: encurtamento de quadríceps. Tratamento recomendado: muito alongamento.
Eis então que tive que parar total naquela semana o treino de corrida e me fechar na academia, pois a musculação seria fundamental neste processo de fortalecer novamente o músculo da coxa, seguido de muitos e muitos alongamentos e autoliberações. Ali eu pensei “já era a minha meta de melhorar meu tempo”. Foi então que resolvi aceitar que forçar não valeria a pena e que no tempo curto que eu teria, deveria focar em treinar para completar a prova.
Tive então apenas cerca de dois meses para treinar com foco na meia seguindo uma planilha de treinos. Consegui alongar a musculatura atrofiada na montanha e fortalecê-la o suficiente para a prova. Foi uma bela corrida, tempo ameno, terreno plano e boa infra. Larguei solto. Me sentindo bem. E contive a euforia para não seguir o ritmo dos mais treinados do meu pelotão. Segurei a onda, pois haviam me orientado a segurar o pace numa zona de conforto no primeiro terço da prova, intensificar no segundo e ver como eu me comportaria no terceiro. Foi o que fiz. Na metade da prova, consegui acelerar um pouco mais, porém senti o peso da falta de treino nos quilômetros finais, baixando meu ritmo para fechar a prova.
Para a minha surpresa, cruzei a linha de chegada com o tempo de 1:57:12, baixando meu tempo em 2 min, mesmo achando que cruzaria a linha bem além disso. Deu para notar que o acúmulo de experiência é algo importante. Conhecer seu corpo e saber como lidar como a situação ajuda a controlar a parte mental, que é muitas vezes mais exigida do que a parte física. Como já não era novidade para mim, estava mais à vontade na segunda prova. Ou seja, fazer a prova com mais tranquilidade mental é um ponto a favor, pois quebra o nervosismo. Para a próxima, tentarei melhorar meu planejamento de treinos e buscar fazer nos treinos a distância mais próxima possível da prova nos treinos longos. E alongar. Com certeza, alongar muito.