Todas as construções de padrões estéticos ao longo de décadas contribuíram para casos de distúrbio de imagem corporal, mas em sentido contrário, a sociedade passou a enxergar a necessidade de debates em relação à diversidade dos corpos e de como a saúde mental é importante no processo de autoaceitação.
Pensando em quais caminhos nos levaram ao aumento do número de pessoas que sofrem com esse transtorno, a psicóloga Renata Azevedo aponta a questão cultural, muito pautada pela mídia, que impõe um padrão estético que não necessariamente é o mais saudável para todos. Além disso, existe também uma cobrança do nosso próprio ciclo social, formado por familiares e amigos, que incentiva a busca por um tipo de corpo x,y ou z. A cobrança interna também tem sua parcela de responsabilidade. “É comum que o sentimento de inferioridade gere a percepção de que a vida das outras pessoas é melhor ou mais fácil”, explica a especialista.
Nesse sentido, o autocuidado surge como um importante recurso, que vai além de uma preocupação estética. O “self-care” é o estímulo a um olhar para si mais carinhoso, que reflete em vários aspectos. Adotar hábitos diários que promovam uma sensação de bem-estar garante uma vida com muito mais energia e motivação.
De acordo com Renata Azevedo, autoestima, autoconhecimento e autocuidado são termos que caminham lado a lado. Quando a gente se conhece, tudo fica mais leve. Cobramos menos de nós mesmos, nos aceitamos e nos respeitamos mais. O autocuidado também ensina sobre saber nossos limites e nos policiarmos para não ultrapassá-los, assim como entender os pontos que precisamos desenvolver e também o que temos de bom e devemos valorizar e usar a nossa favor.
O processo de aprender a gostar de si, entretanto, é algo que deve ser contínuo. “Eu costumo falar que ninguém nasce com autoestima, ela é construída. Assim como um músculo, ela precisa ser exercitada constantemente, cuidando da saúde física e emocional”, afirma Renata.
A atividade física tem um importante papel em um equilíbrio entre corpo e mente, mas não deve ser algo forçado. Nem sempre a atividade que está na moda é a que vai ser a melhor para você. É muito comum que algumas modalidades surjam como salvadora ou milagrosa, mas não dá pra encarar como fórmula de bolo. É muito importante encontrar um exercício que você se adapte e goste, assim fica mais fácil manter a frequência e se dedicar. Alguns esportes podem ser perfeitos pro seu biotipo, ou tenham uma dinâmica que você se identifique.
Em relação à mente, precisamos desconstruir algumas crenças limitadores que estão enraizadas no imaginário e que geram uma autossabotagem. O mais comum é o pensamento de não ser capaz, proveniente de uma baixa autoestima. Esse raciocínio é muito perigoso, já que a pessoa que acredita não ser suficiente pode cair no descuido de se doar deliberadamente ao outro, mesmo que isso prejudique a si próprio.
“O autoconhecimento liberta de seguir padrões que você já está acostumado e que te paralisam. Quando você se conhece, você tem a oportunidade de enxergar um mundo de oportunidades.”, diz Renata, que descreve também algumas atitudes no dia a dia que podem ajudar a desenvolver o amor próprio. “Primeiro, saiba impor limites e dizer não. Se coloque em primeiro lugar e tenha contato com coisas que você goste para se alimentar da energia de se autoconhecer. Leia livros, converse com pessoas e considere fazer terapia”.
Nos dias que se sentir mais pra baixo, tenha em mente que é normal não ser feliz o tempo todo, esses dias vêm mas passam também. Se a indisposição se prolongar por mais de dois dias, fique atento e procure ajuda.
“A primeira coisa a fazer é “curtir” a bad. Se estiver com vontade de chorar, chore. Se estiver com vontade de ficar em casa, fique. O importante é se respeitar e acatar seus desejos sem se cobrar. É normal não se sentir bem ou feliz em algum dia, mas saiba diferenciar o que é um momento do que é um sentimento contínuo”, finaliza Renata.