*Por Ana Tapajós, apresentadora
É com muito prazer e grande nostalgia que meu post desse mês conta sobre a experiência mais incrível, única e libertadora da minha vida: o Burning Man (BM). O maior festival de arte e contracultura do mundo. A última edição aconteceu entre o fim de agosto e o início de setembro nos Estados Unidos. Tive a alegria de ir ao Burning Man ano passado. Enfim, defini vagamente como festival de arte, mas na realidade não acredito que exista uma denominação exata do que é o Burning Man.
O BM nada se parece com festivais de músicas que existem pelo mundo ou com os encontros de comunidades alternativas que já fui. Se trata de uma reunião anual de 73 mil pessoas que acontece em Black Rock City – uma cidade temporária erguida no deserto de Nevada. O evento é descrito como um experimento em comunidade e arte, influenciado por princípios bem únicos como autossuficiência, autoexpressão, cooperação comunitária, responsabilidade cívica, participação e imediatismo e seu lema é ”deixar nenhum rastro”, ou seja, cuidar do seu lixo.
São mais de 260 obras de artes gigantescas no meio do deserto. A cidade é construída no formato de um relógio de sol. Na parte periférica dela ficam os campings e no centro as obras e instalações de arte. Essa área central é chamada de Playa. Para atravessá-la de um lado ao outro, são quase duas horas andando, então todos levam suas bicicletas ou “art cars” para transitarem pelo festival.
A metrópole construída no deserto tem desde posto de saúde a correio. Cada camping possui uma atividade a se oferecer a todos. Essas atividades são das mais variadas possíveis e vão desde workshops de meditação e yoga, festas, jogos a até tendas de orgia. Todas as atividades são oferecidas gratuitamente dentro do festival. Uma vez que você comprou o convite e chegou em Black Rock City, o dinheiro não tem mais valor e lá dentro nada pode ser comprado ou vendido, tudo é dado ou trocado. Portanto, você precisa levar tudo que julgar necessário para sobreviver uma semana no deserto. Isso inclui toda sua comida até a água para tomar banho.
Como um dos princípios é a autoexpressão ninguém se veste de forma convencional e sim se customizam, mas se você quiser não usar roupa nenhuma e ficar pelado tudo certo também. No Burning Man, você pode fazer o que quiser desde que seja feliz e respeite o próximo e não largue lixo no chão rs.
Como é um deserto, geralmente faz muito calor durante o dia e frio à noite. Esporadicamente acontecem tempestades de poeira , por isso é preciso usar gougles de neve e lenço para se proteger. Eu particularmente acho as tempestades de poeira incríveis, lembro que ficava impressionada como do nada não conseguia ver mais coisa alguma e de repente quando a poeira ia sessando eu só via surgindo uma obra de arte gigante de 10 metros de altura!
Durante o festival, cada dia é uma caixa de surpresa e a paisagem é muito louca, meio o filme Mad Max sabe? Só indo para entender.
Basicamente o dia é pegar sua bicicleta e ser feliz passeando pela praia ou usufruindo das milhões de atividades diferentes oferecidas pelos campings. Não existe um line-up de shows e músicas, mas você pode dar a sorte de sair andando sem rumo pelo deserto e de repente chegar em uma festa e encontrar o Skrillex tocando (aconteceu comigo rs).
À noite, no Burnig Man, para mim, foi a coisa mais louca de todas. Simplesmente não existe luz elétrica então tudo e todos usam luz de led. Todas as obras de arte brilham à noite. Pensa em uma escuridão com milhares de luzes de led brilhando e se mexendo! É muito incrível, uma sensação entre estar dentro de um vídeogame ou no espaço sideral!
As queimadas
A grande celebração dos festivais é a queima das obras de arte principais. Nos últimos 4 dias, eles queimam uma por dia. Cada ano algum artista faz uma nova obra de arte de madeira para ser queimada. A princípio, você pode pensar “ nossa, que pena queimar obras de artes tão lindas!”. Mas quando você vê uma fogueira que parece desenhada com mais de 25 metros de altura você entende que o fogo faz parte da obra e do espetáculo.
Todo ano um templo, um homem de madeira e mais duas obras que variam são construídas. Em 2016, o ano que eu fui, queimaram além do templo e do Homem as Catacumbas e uns Faróis. Eu chorei de emoção ao ver a minha primeira queimada, foi junto do nascer do sol, explosão de cores, muito mágico. O templo é um lugar de muita energia e respeito.
Durante todo o festival, as pessoas vão até lá para rezar. Elas geralmente levam lembranças e coisas que querem queimar e deixar para trás, ou prestam homenagens a entes ou amigos que já se foram. É um lugar de muita paz.
As queimadas são feitas em silêncio absoluto, só se escuta o fogo passando pela madeira, muito emocionante!
Finalmente, geralmente no sábado, se queima o homem. É a grande celebração, lembra um pouco as nossas comemorações de Reveillon. Soltam muitos fogos, muita música e festa e todos desejam um feliz recomeço.
Depois de todas essas queimadas, a produção simplesmente cata todas as cinzas e quando o festival acaba a cidade fica ainda funcionando por um mês até terem catado e retirado todo e qualquer rastro dos seres humanos.
Enfim, Burning Man é uma experiência para a vida toda e muito peculiar, não sei se é algo que todos gostariam, mas acredito que todo mundo deveria ir pelo menos uma vez na vida e vivenciar tudo aquilo.
É um lugar muito forte energeticamente, é tudo muito além de simplesmente ir a um festival ficar muito louco ou zoar. Significa vivenciar uma experiência de comunidade que para mim não passava de uma utopia.
É uma grande oportunidade de se encontrar.
Mesmo que dure somente 8 dias no ano, é muito maravilhoso fazer parte de um encontro onde todos se amam, se respeitam, se ajudam, não se julgam e são verdadeiramente livres. Um lugar onde você pode ser verdadeiramente o que você quiser e ninguém se importa real. Algo que me encantou muito foram as pessoas, todo mundo é muito conectado uns aos outros e se ajudam e conversam sem interesse algum. Como é muito difícil estar lá e tudo é muito escasso as pessoas se ajudam, e são muito generosas. Não existe sinal de telefone, as pessoas realmente vivem o momento presente, vivem o seu aqui e agora e se conectam com elas mesmas e entre si.