*Por Rafael Duarte, equipe Miramundos
Quando as hélices do helicóptero da Marinha começaram a girar para nos levarem para terra firme com nossos equipamentos depois de quatro dias navegando pelo Atlântico à bordo do navio Almirante Sabóia, o G-25, ainda não sabíamos daquela que seria uma das surpresas mais especiais da expedição. O comandante Nelson Leite e a sua equipe aérea da Marinha do Brasil prepararam as boas-vindas da Miramundos na ilha com um 360º completo da ilha, que teria sido vista pela primeira vez por volta de 1500 , e que até hoje se guarda como um dos pontos mais desconhecidos do Brasil.
Aterrissamos no POIT (Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade) com ânimos à flor da pele e corações a mil. O voo foi de tirar o fôlego. Durante os quase cinco minutos no ar observamos de ângulos privilegiados cada um dos mais variados terrenos da ilha, que despertaram a curiosidade dos geólogos e geógrafos que estavam na equipe de pesquisadores do Pró-Trindade na mesma missão que a gente. Os mais sortudos (com projetos de longo-prazo) viveriam na ilha durante dois meses, até o próximo navio aparecer para reabastecer os marinheiros de mantimentos e trocar novamente parte do efetivo.
Os primeiros seres que tivemos contato foram os caranguejos amarelos, que apesar de estarem na lista de animais com risco de extinção, a população deles é incrivelmente abundante por todo o perímetro, cobrindo o terreno rochoso de pontos aparelhos para onde se olha.
Imagine uma montanha de cerca de 6 mil metros de altitude submersa, uma espécie Monte Aconcágua 95% submerso, com apenas os 600m do seu cume para fora d’água. Assim é a Ilha da Trindade. Um formação vulcânica nascida no Cretáceo (há cerca de 117 milhões de anos) e que foi crescendo ao longo dos diferentes períodos, até finalmente aflorar há cerca de 3 milhões de anos.
Segundo o geólogo Delzio Machado Júnior, que viajou com a gente, a última evidência de vulcanismo em Trindade ocorreu há pouco tempo, cerca de 6 mil anos. “Em tempo geológico, 6 mil anos não é nada. A última erupção aqui foi no Vulcão do Paredão, onde percebemos que parte da cratera erodiu. Aliás, estima-se que esta ilha já tenha alcançado 9 mil metros de tamanho total (cerca de 3 mil metros aflorados), mas hoje tem este tamanho por estar passando por um longo processo de erosão”, explicou o especialista, ressaltando que os picos da ilha são necks – chaminés – dos vulcões. Além da erosão natural da ação do mar, dos ventos, da chuva e do sol, como observamos claramente no ponto conhecido como “Túnel”, pequenos terremotos ainda ocorrem na ilha.
Por onde caminhamos em Trindade, é incrível a variedade de cores e tipos de rochas por todas as partes, fruto de diferentes explosões com distintos tipos de magma ao longo dos anos. E o curioso é que a ilha que já foi coberta por uma floresta, hoje é praticamente toda devastada. O grande impacto ambiental foi causado pela introdução de cabras que se instalaram e se proliferaram na ilha comendo toda a vegetação que puderam, até a Marinha retirar os caprinos do local. A única planta que as cabras não conseguiram comer foram as samambaias gigantes (Cyathea copelandii), que tem um caule de até 7m de altura. Atribuem ao astrônomo Edmund Haley, aquele do cometa, a introdução dos 600 primeiros animais que comeram (quase) tudo. Apesar deste fato, foram documentadas 120 espécies de plantas na ilha.
A nossa saga em terra continua na próxima reportagem da série. A “Expedição Miramundos – Ilha da Trindade 2017” foi realizada a convite da Marinha do Brasil para a filmagem do documentário que tem patrocínio da AllStar Brasil Seguros, SPOT Brasil e Sobrebarba e apoio da GoPro, Mormaii e BT Bodytech.
Acompanhem e sigam @miramundos no Instagram e no Facebook.