Cuidar da saúde não é para homem. Será mesmo? Por essas e outras ideias enraizadas que ainda existem muitos desafios quando o assunto é saúde do homem. Ir à consulta de rotina não é exagero, se alimentar bem e fazer exercício não são frescuras e falar sobre o que sente não é só coisa de mulher. O dia 17 de novembro foi escolhido para lembrar a luta contra o câncer de próstata e marcar a importância da conscientização e do cuidado com a saúde da população masculina. Para tirar algumas dúvidas sobre o tema, o blog da BT conversou com a Mariane Fontes, oncologista do Grupo Oncoclínicas, no Rio de Janeiro.

Quais homens que estão mais suscetíveis a desenvolver o câncer de próstata? 

De acordo com Mariane Fontes, o câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum no mundo e tem forte relação com o envelhecimento. “É raro um homem com menos de 40 anos desenvolver, mas após essa idade, a incidência aumenta bem rápido. Homens negros e de origem hispânica também têm mais chances”, explica a médica. Histórico familiar de determinados cânceres também influenciam o desenvolvimento do câncer de próstata.

Existem formas efetivas de prevenção ou o caminho é fazer o diagnóstico precoce apenas?

Segundo a especialista, o rastreamento e a prevenção podem reduzir a mortalidade. O rastreamento envolve exames e avaliações médicas. “É possível intervir antes do desenvolvimento do câncer ou em um estágio inicial, quando o tratamento é mais efetivo”, alerta. Já a prevenção tem foco em bons hábitos, como fazer exercício, parar de fumar, manter um peso equilibrado, ter uma alimentação saudável e limitar o consumo de álcool.

Como a atividade física influencia na prevenção e no tratamento? 

“A prática de exercícios físicos deve ser feita regularmente. Particularmente, durante o tratamento do câncer de próstata, costumo prescrever exercícios de forma rotineira, principalmente exercício de resistência, como musculação”, explica. De acordo com a médica, um dos pilares do tratamento é a hormonioterapia, que reduz a quantidade de testosterona no organismo. Em alguns casos, pode gerar perda de massa muscular, mais cansaço, alteração na glicose e outros problemas. Ainda segundo a oncologista, esses efeitos podem ser combatidos com dieta e exercícios.

Quais são os desafios para diminuir a incidência de câncer de próstata e de mortes relacionadas a ele? 

Para a médica, o diagnóstico precoce é a melhor forma de reduzir a mortalidade relacionada ao câncer de próstata e atingir a cura. Mas vale ressaltar que houve muitos avanços no tratamento do câncer de próstata. Ter um diagnóstico de um câncer avançado ou metastático (quando a doença já acometeu outros órgãos) para muitas pessoas é sinônimo de morte. “Atualmente, com avanço da ciência e incorporação de novas tecnologias, temos diversas opções de tratamento e as descobertas não param de acontecer. Ousaria dizer que para alguns pacientes o câncer de próstata se tornou uma doença crônica, isto é, os pacientes convivem com ela. E, na minha percepção, ainda temos muito a desvendar”, afirma.

Os homens são menos atentos ao cuidado com a própria saúde? 

O questionamento se confirma na experiência clínica de Mariane. No imaginário social, a imagem masculina de invulnerável contribui para falta de cuidado com a própria saúde. “Em relação ao rastreamento do câncer de próstata, eu percebo um preconceito direcionado ao exame digital da próstata. Porém, essa percepção também se estende ao cuidado com a saúde como um todo. Muitas vezes, quando questionamos os homens, recebemos respostas na linha de que ‘o cuidar é uma tarefa feminina’. De fato, muitas vezes ainda ficam a cargo das esposas os agendamentos de consultas e exames”, conta a doutora.