Caloria é uma palavra que assusta muita gente. Acredita-se que ela está intrinsecamente relacionada ao peso corporal e que reduzir seu consumo ou acelerar sua perda são premissas básicas para o emagrecimento. Mas será que priorizar a eliminação das calorias deve ser o foco de quem quer perder peso?
Antes de mais nada, é preciso entender que caloria não é um elemento encontrado na comida – equívoco mais frequente do que se imagina –, mas uma medida de energia. Definida no século 19, ela corresponde à quantidade de calor necessária para aumentar em 1 °C a temperatura de 1 g de água. Empregada mais tarde na nutrição, passou a determinar o valor energético dos alimentos, mesmo que oficialmente a unidade usada para medir a energia térmica seja o joule (1 cal = 4,186 J).
“Em um carro flex, tanto a gasolina como o álcool liberam a energia de que ele precisa para funcionar, sem grandes diferenças em seu desempenho. A caloria representa essa energia para o corpo humano. Só que, para nossa saúde, é importante saber se ela veio de um sorvete ou de uma maçã, porque isso altera seu processo de metabolização, com efeitos diversos para a composição corporal”, explica Lívia Porto Cunha da Silveira, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A especialista orienta seus pacientes a se preocuparem menos com a quantidade de calorias e mais com a qualidade nutricional dos alimentos. “A contagem de calorias se torna dispensável quando comemos alimentos naturais e balanceados, que organicamente aumentam a saciedade”, afirma. A seguir, a especialista nos ajuda a esclarecer alguns mitos comuns envolvendo as calorias.
DEVEMOS EVITAR ALIMENTOS ALTAMENTE CALÓRICOS
É importante nos atentarmos às calorias, sim, mas sem focar apenas nelas. O salmão, por exemplo, é bastante calórico, mas saudável, pois possui ômega 3, que reduz os níveis de colesterol ruim, e índice glicêmico baixo, o que o torna indicado para diabéticos. “Se a caloria vier de uma gordura boa, o organismo usará várias vias de metabolização, que vão distribuir melhor a energia pelo corpo”, esclarece a Dra. Lívia.
PARA EMAGRECER, DEVEMOS PRIORIZAR ALIMENTOS DE BAIXA CALORIA
Não necessariamente. É preciso considerar as características nutricionais do alimento antes da quantidade de calorias, já que, como pontuou a endocrinologista, nem todo alimento saudável tem baixo teor calórico – e vice-versa. “É preferível comer um abacate com 100 calorias, mas com muitos nutrientes, do que uma bolacha fit com 10 calorias, mas que é altamente processada e produzirá um acúmulo de gordura inadequado no corpo”, exemplifica a médica.
PRODUTOS DIET AJUDAM A EMAGRECER
“Podem até ajudar, mas o ideal é evitar esses alimentos ultraprocessados”, defende Lívia. Nesses produtos, há a retirada completa de algum nutriente, como gordura, açúcar ou sal. Só que para manter o sabor original, são adicionados outros elementos, como adoçante ou edulcorante, que podem torná-lo ainda mais calórico.
O COZIMENTO ALTERA O VALOR CALÓRICO DO ALIMENTO
Não, apenas muda a disponibilidade de alguns nutrientes não relacionados à energia, como potássio e vitaminas. “Quando o objetivo é diminuir o consumo de potássio, devemos cozinhar o alimento. Quando queremos aproveitar todos os nutrientes, reduzimos o cozimento”, diz a endocrinologista.
NÃO TOMAR CAFÉ DA MANHÃ AJUDA A EMAGRECER
Apesar de baixar o nível de energia acumulada, o que, em tese, ajuda a perder peso, a estratégia pode ser um “tiro no pé”, alerta Lívia. “Ao aumentar o período de jejum, reduzimos o metabolismo, que consiste no gasto de energia. A recomendação é privilegiar o desjejum e a dieta fracionada”, diz, lembrando ainda que cada caso deve ser tratado de forma individualizada por um especialista