O espaço de diálogo sobre a menopausa ainda é muito limitado, e por isso, muitas mulheres temem a chegada desse momento em suas vidas. Para elucidar algumas dúvidas mais comuns, conversamos com a ginecologista Elaine Mallmann, da clínica Leger, que fala sobre as principais mudanças na vida e no corpo feminino com a chegada desse acontecimento, além de dar dicas de como encarar de uma maneira mais tranquila essa nova fase.
1 – Quando a menopausa começa a se manifestar?
A menopausa significa a data da última menstruação na vida de uma mulher, e marca a passagem do período em que a mulher pode reproduzir para a fase em que ela perde essa capacidade. Normalmente, os sintomas aparecerem dos 45 aos 55 anos da mulher. A menopausa também pode surgir em outros períodos, manifestando a queda (ou redução) hormonal de forma mais precoce.
2 – O que acontece com os hormônios durante esse período?
O estradiol, principal hormônio feminino, tem uma queda significativa com a chegada desse período. A função dele é a de proteger a saúde da mulher, pois evita o surgimento de doenças cardiovasculares como infarto, angina, acidente vascular cerebral (AVC ou “derrame”). O estradiol é também importante para evitar a perda óssea que acontece com a idade, ajuda a saúde da pele, cabelos e órgãos genitais e é um fator importante para o interesse sexual. A diminuição da libido, inclusive, é uma das maiores queixas apresentadas por mulheres que estão na fase de transição para a menopausa ou que já pararam de menstruar há algum tempo. Este fato é atribuído à diminuição da secreção dos hormônios femininos e masculinos, por causa da redução do funcionamento ovariano. Apesar disso, sabemos que a função sexual feminina é complexa e depende também de fatores não hormonais, como a intimidade emocional e a satisfação no relacionamento com o parceiro.
Além disto, em algumas mulheres, a deficiência hormonal causa ressecamento vaginal, o que torna a penetração dolorosa, fazendo com que estas mulheres passem a evitar o sexo. Para algumas mulheres, a perda da capacidade reprodutiva sinaliza também a conscientização do processo de envelhecimento, que junto com as modificações do corpo e o desconforto causado pelos sintomas contribuem para um estado geral de humor depressivo e diminuição da autoestima. Essa tendência à depressão aparece principalmente nas mulheres que já apresentaram crises depressivas anteriormente. No climatério (nome que se dá a esta fase de transição), o sono fica mais leve porque é sempre interrompido pela presença de calorões. Isto ocasiona cansaço e um estado de irritabilidade em que algumas mulheres passam a reagir agressivamente a situações que anteriormente eram facilmente toleradas.
3 – Como diminuir os efeitos?
A melhor maneira de enfrentar este período é investir em hábitos mais saudáveis: praticar atividade física regularmente, parar de fumar, melhorar a alimentação e reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas. Adotar uma rotina de exercícios físicos é superimportante para evitar alguns processos que podem se intensificar nessa fase, como a diminuição da massa magra, aumento de peso e acúmulo de gordura abdominal. Os exercícios aeróbicos melhoram a aptidão cardiorrespiratória, reduzem o risco de doença cardiovascular e determinam uma redução significativa do peso corporal quando associados à uma dieta saudável. É recomendado um programa de exercício físico de três a cinco vezes por semana, com duração entre 30 e 120 min. Já os exercícios anaeróbicos ou de força trazem como benefício a melhora do equilíbrio, da coordenação, da mobilidade funcional e também diminuem a sensação de calor. Os exercícios que promovem flexibilidade são igualmente importantes porque previnem disfunções, mantêm e restauram a força muscular, aumentam a resistência à fadiga, a estabilidade, a coordenação e o equilíbrio. A atividade física pode ser feita por todas as mulheres, independente da idade ou estado clínico, mas a escolha do tipo de exercício deve ser individual, com especificidade de intensidade e objetivos que respeitem as limitações físicas de cada uma. Em casos de osteoporose severa, por exemplo, é bom evitar atividades de impacto, priorizando os exercícios de força.
4 – Quando a reposição hormonal é indicada?
Existem duas situações em que a menopausa necessita ser tratada: quando ela acontece cedo demais ou quando se acompanha de sintomas tão intensos, que interferem na qualidade de vida. O tratamento mais efetivo é a reposição dos mesmos hormônios que estão insuficientes – a chamada reposição hormonal. Além de reduzir os “fogachos” (sensação de calor intenso), a hormonioterapia evita a perda da massa óssea, que em algumas mulheres é muito significativa, levando ao risco de fraturas. Ela também é responsável pelo controle das alterações de sono, flutuações de humor, ressecamento vaginal e evita a perda de libido.
5 – Quem pode fazer reposição hormonal?
Nem todas as mulheres podem adotar este tratamento, especialmente aquelas que têm câncer de mama ou doenças precursoras dele. Também não é permitido a pacientes com risco aumentado para trombose ou com doença cardíaca, pacientes fumantes ou com outras condições menos comuns. Nestas situações, podem ser usados medicamentos sem efeito hormonal, que agem diretamente sobre o sistema nervoso central, diminuindo os ‘calores’ e melhorando o sono e o humor.
Por esta razão, é importante reforçar que toda mulher nesta fase deve ser avaliada individualmente por seu ginecologista, que vai avaliar se existe a necessidade de tratamento hormonal e quais os riscos envolvidos em cada caso específico. A indicação ou a contraindicação, bem como a escolha do melhor tipo de reposição hormonal e o momento adequado para iniciar, devem ser baseados em dados concretos, como o tempo decorrido desde a menopausa, as consequências da redução dos hormônios para o organismo, as doenças que ela apresenta ou tem predisposição para desenvolver, e o bem-estar da mulher. Outro ponto importante é que toda essa alteração no corpo, no comportamento e modo de viver de maneira geral, afetam muito o estado emocional. Por isso, é fundamental que a mulher busque formas de preservar sua saúde mental, buscando atividades alternativas que provoquem prazer. Além disso, o processo de autoconhecimento também pode ser um importante aliado, fazendo com que a mulher aceite sua ciclicidade e suas fases, respeitando seu tempo e buscando conversar sobre esse momento com outras mulheres, seu médico e outras pessoas que possam oferecer suporte.