*Por Paulo Camões, pesquisador musical na Gomus

Apesar das dificuldades, 2016 teve um saldo definitivamente positivo no quesito musical. Houve um turbilhão de lançamentos de álbuns do universo do Hip Hop/R&B: Alicia Keys, Kanye West, Frank Ocean, Drake, Rihanna, Kendrick, Beyoncé, entre outros. Chamou a atenção o fato de que muitos álbuns quebraram o paradigma da lógica pop: da receita de bolo para fazer hits. Álbuns conceituais para serem ouvidos do início ao fim viraram tendência. Todos feitos sem medo de errar, com misturas extravagantes e uma boa dose de liberdade artística. Então vamos à lista dos discos de 2016 por ordem de chegada. Pra conferir todas as dicas é só acessar nossa playlist no Spotify (link aqui).

O ano já começa com “ANTI”, da Rihanna. Com certeza, o disco mais ousado daquela que já foi conhecida por “S.O.S” e “Umbrella”. Em “ANTI”, “Work” assumiu o papel de single pra tocar na rádio, enquanto o resto do álbum fica livre para as experimentações. A aventura estética já começa na segunda faixa, “James Joint”, com 1:12 repleto de synths etéreos e sem nenhuma batida.

Não dá pra deixar de ouvir: “Needed Me”, pela produção elegante, “Consideration”, pelo batidão ácido, e “Love On The Brain”, uma balada soul!

Em fevereiro foi lançado o polêmico álbum de Kanye West “Life Of Pablo”. Aliás, a primeira versão dele. O disco sofreu pelo menos quatro alterações desde seu lançamento. Não bastasse a ousadia estética, o rapper também surpreendeu na forma de apresentar a obra, considerando-a um processo contínuo. Retirou vocais, mudou letras e arranjos, além de adicionar novas faixas. O álbum conta com elementos clássicos Kanye, como batidas saturadas, arranjos vocais em abundância e o questionável autotune, entretanto, tem um acabamento menos refinado que os outros.

Não dá pra deixar de ouvir: “Ultralight Bean”, pelo coral gospel que é emocionante, “High Lights”, por ser a faixa mais good vibe do álbum, e “Famous”, pelo controvérsia que deu com a Taylor Swift.

Em março, Kendrick Lamar simplesmente lançou 8 faixas inéditas, sem promoção, sem título e sem masterização. O “untitled unmastered” (tudo em minúsculo mesmo) conta com 8 faixas que haviam sido gravadas entre outros discos para o “Pimp a Butterfly” (2015), mas acabaram não entrando na tracklist. O álbum conta com participações de Cee-Lo Green, BADBADNOTGOOD e Anne Wise.

Não dá pra deixar de ouvir: “untitled 05 09.21.2014”, pelo arranjo jazzístico, “untitled 06 09.21.2014”, pela levada Bossa Nova e o vocal delicioso de Cee Lo Green, e “untitled 08 09.06.2014”, pelo clima perfeito para o esquenta.

Obviamente, a rainha Beyoncé não ficou pra trás nessa onda “artsy”. Não satisfeita em lançar músicas com uma pegada inédita, flertando com o Rock, o Folk e o Dancehall, ainda lançou um filme, dando origem ao álbum visual “Lemonade”.

Não dá pra deixar de ouvir: “Hold Up”, pela pegada jamaicana, “Don’t Hurt Yourself”, pela parceria com Jack White, e “Formation”, pelo discurso de empoderamento

Os lançamentos mainstream-conceituais de 2016 encerraram com o álbum mais que aguardado de Frank Ocean. Depois de 4 anos sem lançar inéditas, ele voltou com “Blonde”. Bem menos radiofônico do que o último trabalho, o novo álbum foca a simplicidade das canções. Os arranjos contam com poucos elementos, dando valor aos vocais suaves e aos timbres aconchegantes dos synths.

Não dá pra deixar de ouvir: “Pink + White”, pela voz e arranjo que embalam como um abraço, e “Solo”, pelo timbre delicioso do piano elétrico.

Boas festas!